Por VeritXpress
A Sputnik Brasil, publicou uma entrevista realizada pelos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho, do podcast Mundioka, com o cientista político Victor Oliveira, as ONGs, em especial a exploração de petróleo na Margem Equatorial brasileira e na região de Essequibo.
A discussão sobre o uso das ONGs, financiadas pelo Departamento de Estado dos EUA, como agentes desestabilizadores de governos, golpes de Estado e guerras econômicas, sempre foi um tabu no Brasil. Não apenas elas patrocinam diversos partidos, candidatos políticos, a imprensa, campanhas, ativistas, como são fontes de empregos para muita gente, que são usadas como estúpidos úteis para outras agendas que não são as finalidade as quais essas ONGs dizem defender.
Recentemente, o parlamento Georgiano aprovou uma lei de transparência das ONGS, na qual ONGS que recebem mais de 20% de financiamento do estrangeiro, ficam obrigadas a prestar conta de quais países e entidades vêm seu dinheiro. Foi então que essas ONGs iniciaram uma Revolução Colorida na Geórgia (muito similar ao que elas fizeram no Brasil em 2013, culminando no Golpe de 2016). As ONGs e a imprensa ocidental fizeram uma intensa campanha chamando a lei georgiana de antidemocrática e de Lei Russa. Ao mesmo tempo, os governos dos EUA, França, Inglaterra, entre outros, fizeram declarações oficiais ameaçando e classificando a Geórgia como um país antidemocrático.
- [As ONGs da OTAN efetuam uma Revolução Colorida na Geórgia].
- [EUA incitam ONGs golpistas e alertam americanos de atentados terroristas na Rússia].
- [Geórgia repete a tragédia da Ucrânia?].
A campanha contra exploração de petróleo na Margem Equatorial brasileira reacendeu o debate sobre a influência de organizações não governamentais (ONGs) internacionais, muitas vezes financiadas por empresas e governos estrangeiros, no cenário ambiental e político do Brasil.
Oliveira destacou aos repórteres Saad e Castilho, o Greenpeace, ONG que critica a exploração do petróleo pelo Brasil, é financiada pela Fundação Rockefeller e criada pela ExxonMobil. A ExxonMobil está explorando vários poços de petróleo no mar da Guiana, na mesma região da Margem Equatorial brasileira.
Oliveira explica que entre 2000 e 2008 ExxonMobil investiu mais 5,4 milhões de reais no Greenpeace via Fundação Rockefeller. O pesquisador diz que a transparência é crucial não apenas para as autoridades, mas também para garantir que a atuação dessas instituições esteja em conformidade com a soberania e os interesses nacionais.
“Eu tenho conhecimento de um aumento expressivo de organizações não governamentais que trabalham na questão da Amazônia aqui, e muitas delas são verdadeiras propagandas de outros países aqui na região”, afirma Oliveira.
Castilho e Saad consultaram também o professor de geopolítica do petróleo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ,) Marcelo Simas, que ressalta o papel das ONGs na Margem Equatorial e a mais atuante é o Greenpeace.
“É intrigante notar que o Greenpeace não se posiciona contra a exploração de petróleo na Guiana, onde a ExxonMobil é a maior produtora. Porém a organização critica intensamente a possibilidade de exploração na Margem Equatorial brasileira”, aponta Simas.
Simas exemplifica que a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês) e a Fundação Nacional para a Democracia (NED, na sigla em inglês) foram denunciadas por apoiar grupos de oposição em países como Venezuela, Bolívia e Equador.
Isso reforça a tese de que muitas ONGs atuam como extensões das agendas políticas e econômicas de seus países de origem. “Essas organizações oferecem recursos a países em desenvolvimento, que acabam endividados e, consequentemente, cedendo seus recursos naturais ou seguindo as diretrizes políticas dos financiadores.”
A complexidade de diferenciar ONGs sérias das que defendem interesses inconfessáveis é um desafio, diz. “Existem ONGs movidas por propósito genuíno de conservação ambiental. No entanto, muitas levam o discurso de outras ONGs mais poderosas, que têm interesses geopolíticos e econômicos.”
“A Petrobras, ao se tornar uma grande produtora na região, se posicionaria como concorrente da ExxonMobil. O Greenpeace, financiado pela Fundação Rockefeller, parece estar sendo utilizado para impedir essa exploração, favorecendo interesses estrangeiros.”
O pesquisador não levantou o assunto, mas a campanha supostamente por motivos ecológicos realizadas por ONGs e intensamente pautada pela imprensa nacional e contou até com vídeos feitos por atores hollywoodianos contra a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte (2010), teve financiamento de diversas empresas de termoelétricas estrangeiras, como Dilma Rousseff explicou em entrevista à TV Brasil 247 em 2019.
As ONGs são entidades de Soft Power defendendo interesses de seus países de origem
Para Oliveira, embora a presença dessas ONGs possa ser benéfica em termos de conservação e desenvolvimento sustentável, há uma necessidade urgente de investigações detalhadas para verificar suas verdadeiras motivações.
A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), que será realizada em Belém (PA), deve ser vista de forma crítica no que tange ao papel das ONGs. É importante que a sociedade brasileira participe ativamente desses debates de forma crítica, há o risco dos interesses estrangeiros dominarem a pauta. “Nós precisamos ocupar esses espaços, e aí falo não só como um acadêmico aqui da região amazônica, mas sobretudo como uma pessoa interessada na sociedade. Isso também tem a ver com o nosso futuro,” enfatiza Oliveira.
“As ONGs internacionais, principalmente, não deveriam participar das decisões econômicas dos países”, “o primeiro passo é que a gente, como nação, entenda o papel do Brasil,” “Precisamos fazer valer a nossa soberania, ninguém entende mais e melhor o nosso território do que os brasileiros,” destaca o pesquisador.
Para Oliveira, o Brasil precisa entender melhor sua importância internacional e os desafios que enfrenta, principalmente em relação à intromissão de ONGs que influenciam a política interna do país. Para ele, esse reconhecimento é o ponto de partida para fortalecer a soberania nacional. Ele defende que “precisamos estimular o Estado a ocupar esses lugares”, o que inclui legislações claras e atuação pública efetiva.
Para ele, a chave para enfrentar essas questões está na conscientização da população e na implementação de políticas de Estado que assegurem a soberania e o desenvolvimento sustentável do Brasil. “Isso só é possível a partir do momento que nós entendermos que o Brasil não é um player qualquer no cenário internacional.”
Oliveira alerta que “essas ONGs fazem propaganda para outros países que tentam influenciar a política nacional”.
Simas diz que o protagonismo das ONGs na defesa de questões ambientais remonta ao início do século XX, especificamente com a criação da Commonwealth, em 1931.
“O Império Britânico, em decadência após a Primeira Guerra Mundial, utilizou as ONGs como instrumento para manter o controle sobre os recursos naturais sem a necessidade de domínio territorial direto.”
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os EUA e o Reino Unido fortaleceram essa simbiose, segundo ele, utilizando ONGs como ferramenta de soft power, como forma de conquistar prestígio e influência sem recorrer ao uso da força. “ONGs, juntamente com instituições como o Banco Mundial e o FMI, se tornaram braços importantes dos EUA e do Reino Unido, influenciando políticas em países em desenvolvimento.”
“As ONGs muitas vezes atuam na linha de frente defendendo os interesses dos países fundadores. Essa realidade não é transparente, sendo perceptível apenas para aqueles que pesquisam e compreendem as complexas interligações e interesses envolvidos”,explica Simas.
Para ele, a exploração de petróleo na Margem Equatorial, portanto, não é apenas uma questão ambiental, mas também envolve um jogo de interesses geopolíticos, em que ONGs podem desempenhar papéis estratégicos, nem sempre alinhados com os interesses nacionais dos países onde atuam.
Ele acrescenta que muitas ONGs atuam de forma “subliminar” sob a influência de países poderosos, como os EUA e membros do sistema de vigilância “Five Eyes”, composto também por Reino Unido, Austrália, Canadá e Nova Zelândia.
Leia as entrevistas completas realizadas por Castilho e Saad na Sputnik Brasil.