Autoria, Andrew Korybko, é jornalista e analista geopolítico estadunidense baseado na Rússia, estudioso e autor de um dos primeiros livros direcionado ao grande público sobre guerra híbrida: “Guerras Híbridas – Das Revoluções Coloridas aos Golpes”.
O atual presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, é belicoso contra a Coreia do Norte e concordou com os EUA para armar a Ucrânia e considera organizar uma Aliança Trilateral entre EUA, Coreia do Sul e Ucrânia auxiliados pelo Japão. Todo o projeto estadunidense poderá ir abaixo, se o pedido de impeachment de Yoon for aceito, após sua tentativa de golpe de Estado. Havendo eleições antecipadas, muito provavelmente seu substituto eleito será da oposição que na última eleição conseguiu uma maioria esmagadora no parlamento, complicando assim, o “Pivô (de volta) para a Ásia” dos EUA.
O mundo ainda tenta entender o período de seis horas de lei marcial da Coreia do Sul que foi imposto na terça-feira à noite até o início da quarta-feira de manhã, horário local. Foi a primeira vez que o país passou por isso desde 1980. O presidente Yoon Suk-Yeol alegou que a oposição estava conspirando para derrubá-lo como parte de uma conspiração antiestatal que ele conectou à Coreia do Norte.
Eles controlam o parlamento, já tentaram impeachment várias vezes e estão obstruindo os esforços legislativos, alegou Yoon. Essa mesma oposição então correu para a Assembleia Nacional e votou para suspender a lei marcial. Os militares então pararam de tentar invadir as instalações assim que a moção foi aprovada, e Yoon cedeu depois que ele e seu Gabinete atenderam à demanda.
Enquanto a Lei Marcial ainda estava em vigor, alguns nas mídias sociais deram crédito às suas alegações de uma conspiração antiestatal comunista, enquanto outros especularam que os EUA tinham algo a ver com isso, embora um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional tenha dito à Axios que eles não receberam nenhum aviso prévio.
Agora há pedidos para sua renúncia e até acusações de traição. Sua carreira política provavelmente acabou. A esposa de Yoon, Kim Keon-hee, também pode afundar junto devido aos seus inúmeros escândalos o quais Yoon recusou-se a investigar.
Os leitores podem aprender mais sobre os escândalos aqui e aqui . Em retrospectiva, parece convincente que Yoon queria encenar um autogolpe com pretextos previsíveis de segurança nacional conectados à Coreia do Norte por desespero para se manter no poder e sua esposa longe de problemas.
As implicações desta hipótese são muitas, mas as mais imediatas que se seguem são:
1. Mesmo os aliados tradicionais não estão totalmente sob o controle dos EUA.
É compreensível que alguns tenham especulado durante o auge desta crise que os EUA tinham algo a ver com isso, já que a Coreia do Sul é um dos aliados mais antigos dos EUA, sobre o qual exerce enorme influência, mas as ações indiscutivelmente atabalhoadas de Yoon mostram que mesmo os aliados tradicionais não estão totalmente sob o controle dos Estados Unidos.
2. O mundo se lembra da corrupção política da elite da Coreia do Sul.
Poucos fora do país sabem que “metade de todos os ex-presidentes sul-coreanos vivos estão agora na prisão”, a reputação internacional da Coreia do Sul prioriza sua força econômica e seu apelo cultural, mas esse período de seis horas de lei marcial lembrou ao mundo a corrupção política da elite.
3. O Ministro da Defesa é igualmente corrupto ou sabe de alguma coisa.
Agora está confirmado que o Ministro da Defesa, Kim Yong-hyun, foi quem propôs pessoalmente a lei marcial ao seu antigo colega de escola, Yoon, então ou ele é igualmente corrupto ou talvez haja mais do que aparenta na acusação de Yoon sobre a influência da Coreia do Norte e a oposição, mesmo que isso não seja justificativa para o que fez.
4. A Nova Guerra Fria Não É Realmente Sobre Democracias vs. Ditaduras
O que aconteceu também desmascara a falsa narrativa propagada pelos EUA de que a Nova Guerra Fria seria uma questão de democracias versus ditaduras, já que o malsucedido autogolpe por um dos seus aliados tradicionais, demonstra que as tendências antidemocráticas e pró-ditadura estão vivas e bem na esfera de influência dos EUA.
5. A queda de Yoon pode complicar o “Pivô (de volta) à Ásia” dos EUA
Yoon é agressivo em relação à Coreia do Norte , considera armar a Ucrânia e concordou com os planos dos EUA em organizar uma aliança trilateral entre eles e o Japão, mas tudo isso pode mudar se ele for acusado e a oposição o substituir após eleições antecipadas, complicando assim o ” Pivô (de volta) para a Ásia ” dos EUA.
Mais claro ficará, mas por enquanto, parece de fato que Yoon armou um autogolpe em conluio com o Ministro da Defesa. A consequência mais importante de suas ações é que os EUA podem agora ser forçados a mudar aspectos de seu “Pivô (de volta) para a Ásia” se a oposição chegar ao poder como esperado e reformar a política externa da Coreia do Sul. Muito mais do que a ignomínia que enfrentam em casa, o legado mais duradouro deixado por Yoon e seu Ministro da Defesa pode ser atrapalhar os planos geopolíticos dos EUA no Pacífico contra Rússia e China.
Publicado em korybko substack.