Autoria Quantum Bird, editor do Saker Latinoamérica.
A ansiedade de desempenho se caracteriza pela busca contínua pela estima dos outros e está intimamente relacionada com o medo de não estar à altura de uma situação ou tarefa. Tipicamente, o ansioso projeta expectativas que não se sente, ou sabe não ser, capaz de satisfazer e falha em entregar o prometido na hora crucial. Seria este o problema subjacente da atual administração brasileira?
Todos temos acompanhado os discursos maravilhosos do mandatário brasileiro nos mais diversos fóruns pelo Sul Global e reuniões nas Nações Unidas. Chamados audaciosos e despojados pela paz no mundo, desdolarização, justiça social e estabelecimento de uma ordem internacional justa. O problema é que até o momento, e a despeito das inúmeras oportunidades que se apresentaram, o governo brasileiro não foi capaz de converter palavras em ações. Quando não pratica o contrário do que prega, como na intromissão nos assuntos domésticos venezuelanos.
No que parecer ser a última iteração desse jogo de expectativas e frustrações, temos o anúncio de que devido a um acidente doméstico – fala-se de uma queda durante o banho – o presidente não irá participar da Cúpula dos BRICS em Kazan, na Rússia. Lembrem-se que esse encontro em Kazan vem sendo previsto como o palco de desenvolvimentos cruciais para consolidação da multipolaridade, com medidas práticas sobre desdolarizaçao e plataformas alternativas de pagamentos. O Brasil será representado por seu ministro das relações internacionais, Mauro Vieira, que tem um histórico de gafes e esteve envolvido em uma polêmica desnecessária com Sergey Lavrov durante a última assembleia da ONU. De qualquer forma, de acordo com imagens divulgadas pelo próprio governo, Lula está aparentemente bem e segue trabalhando normalmente. O ferimento na nuca não está visível na foto.
Será que Lula escorregou no chuveiro porque se lembrou de sua declaração sobre a disposição do Brasil em cumprir o mandado de prisão contra o Presidente Putin emitido pelo ICC no ano passado? Será que ele percebeu o quão embaraçoso, e vergonhoso, para si seria apertar a mão e posar para foto com Putin após protagonizar aquela performance ridícula, que apenas expôs para o mundo que ele não controla o governo para o qual foi eleito? As respostas são óbvias.
Do fundo de minha memória chegam ecos de 2015, quando, no auge a guerra híbrida no Brasil e no calor da escala de eventos que precipitaram o conflito na Ucrânia, a então presidente do Brasil, Dilma Rousseff declinou de participar da Parada do Dia da Vitória daquele ano – todos os presidentes dos BRICS estavam lá – para ser madrinha de casamento de seu médico. O representante enviado pelo Brasil foi um obscuro Jaques Wagner, então Ministro da Casa Civil, que segundo consta, não havia sido convidado para a tal festa de casamento. Rousseff foi impedida de governar em 2016.
A verdade é que o Brasil não se comporta como um membro sério dos BRICS e sua classe política, independentemente de partido ou linha ideológica, não está pronta para renunciar a sua mentalidade colonial.
Publicado em Saker Latinoamérica.