Segundo reportagem de Natalya Dembinskaya da RIA Novosti, Moscou e Ancara estão implementando o maior centro internacional de gás (GNL), através de um sistema de gasodutos interligando Rússia, Azerbaijão, Irã, Geórgia e Turquia à Europa. Assim, o hub da Turquia aumentará o volume dos atuais 50 para 70-80 bilhões de metros cúbicos. O que fará de Istambul um enorme centro de venda de combustível russo para a Europa.
Em julho, o Ministro Turco da Energia e Recursos Naturais, Alparslan Bayraktar, disse que Ancara está perto de implementar o projeto central e já criou a infraestrutura necessária. A Turquia planeja duplicar sua capacidade de armazenamento de gás até 2028.
Após a destruição pelos EUA do gasoduto Nord Stream 2 ligando a Rússia à Europa através da Alemanha, como foi comprovado por Seymour Hersh, os europeus passaram a pagar valores exorbitantes pelo GNL vendido pelos EUA e transportado por navios.
Recentemente os EUA cortaram o fornecimento de gás à Europa devido aos maiores lucros ao exportarem para a Ásia, os europeus continuam comprando e pagando muito mais pelo gás russo. Este mês a Rússia quase ultrapassou os Estados Unidos como maior fornecedor de gás natural liquefeito para a Europa, segundo avaliação da Bloomberg.
O Projeto do Hub Moscou-Ancara
O projeto surgiu em outubro de 2022, duas semanas após a destruição dos gasodutos Nord Stream 1 e 2, Vladimir Putin apresentou a ideia de transferir o abastecimento perdido para a região do Mar Negro. E propôs a criação de um centro de gás na Turquia para exportação para outros países – principalmente europeus. Bem como o uso de uma plataforma de negociação eletrônica, que pode se tornar um local de determinação do preço final do gás.
Pavel Sevostyanov, Conselheiro de Estado Interino da Rússia, Professor Associado do Departamento de Análise Política da Universidade Russa de Economia Plekhanov, explicou que o modelo tradicional do hub funciona através de duas vias do Turkish Stream instaladas ao longo do fundo do Mar Negro, o gás russo entra na Turquia por uma linha para o mercado interno turco, a outra para o mercado europeu. A capacidade projetada de cada um é de 15,75 bilhões de metros cúbicos por ano.
Além disso, o gás russo é exportado para a Turquia através do Blue Stream, cuja capacidade é de 16 bilhões de metros cúbicos por ano. Assim, o potencial total de oferta é de 47,5 bilhões de metros cúbicos por ano. A administração será de responsabilidade de duas empresas turcas, a Botas, empresa envolvida em dutos de petróleo bruto e gás natural, e a Epias, empresa de mercado de energia
Já existe toda uma infraestrutura de gasodutos e oleodutos, Baku-Tbilisi-Ceyhan (BTC), ligando desde o Mar Cáspio atravessando o Azerbaijão e a Geórgia, e entrando na Turquia por nordeste até a cidade turca de Ceyhan e depois para a Europa. A Turquia é a maior fornecedora de combustível a Israel via o Porto de Ceyhan.
Com o término do novo projeto, a Rússia aumentará o abastecimento através da rota sul, em vez da tradicional rota ocidental e pelo gás russo ir para um hub na Turquia junto com o GNL dos demais países e ninguém fará perguntas sobre a sua origem, não sendo assim possível objeções por países europeus antirrússia.
A criação do hub ajudará a Rússia a exportar mais gás – gasoduto e liquefeito – para a Turquia e a Europa, mas acima de tudo, permitirá manter os atuais volumes de fornecimento de combustível aos contratos de longo prazo para a Bulgária, Sérvia, Hungria, Bósnia e Herzegovina, Grécia, Macedônia do Norte e Romênia.
Alguns críticos do projeto receiam que pode não haver procura europeia necessária, mas apesar da recusa declarada ao gás russo, a UE continua aumentando o seu consumo. Além disso, a indústria e os países minoritários na União Europeia, necessitam de abastecimentos acessíveis e confiáveis e estes a favor da criação de grandes reservas de gás natural em suas proximidades.