Por Marcus Atalla
Nem EUA, nem União Europeia e países orientais estão pondo fé nas tais energias verdes como fontes para substituir as matrizes energéticas atuais. EUA e principalmente os países europeus estão investindo em energia nuclear. Ainda mais, agora que os europeus perderam o gás barato russo em decorrência da guerra por procuração da OTAN na Ucrânia.
Até então, pensava-se que apenas a França estaria numa sinuca de bico pela dependência de urânio de suas ex-colônias na África Ocidental, porém, as investigações realizadas pelo site independente e investigativo britânico, Declassified UK, demonstram que a dependência se estende ao Reino Unido, o qual também está usando seu poderio militar em auxilio aos franceses, para reverter a recente independência desses países neocolonias explorados pela metrópole francesa.
A Força Aérea Real britânica (RAF) realizou pelo menos 39 missões aerotransportadas em conjunto com tropas francesas no Níger secretamente.
O Níger é a principal fonte de urânio para a França, o país é explorado como uma colônia e o preço pago ao mineral é muito abaixo do valor de mercado. A exploração da maior parte das minas de urânio nigerianas está sob controle da estatal francesa Areva.
A estatal não paga taxa de exportação sobre as remessas de urânio enviadas à França. Além de pagar 0.8 euros por quilo de urânio exportado, enquanto o preço de mercado é em torno de 200 Euros por quilo. O que segundo alguns especialistas, daria anualmente um prejuízo anual ao Níger de cerca de 54 Bilhões de euros.
Na outra ponta, a maior produtora e distribuidora de energia da França é a Électricité de France (EDF), a qual além de gerir as centrais nucleares francesas, também gere as centrais nucleares britânicas.
Declassified UK revela que helicópteros britânicos operam em união com as forças francesas no Níger. A investigação surge no momento em que a junta do Níger acaba de expulsar tropas americanas de seu território.
Domingo passado (31/03), a junta militar que governa o país pôs fim ao acordo de cooperação militar com os Estados Unidos. As tropas estadunidenses no Níger eram estimadas em 1.100 soldados antes de 26 de Julho, quando uma junta militar com apoio popular derrubou o Presidente Mohamed Bazoum, eleito em 2020, cujo partido PNSD-Narayya, governa o Níger desde 2011 e era visto como testa de ferro dos franceses.
A embaixadora estadunidense, Kathleen FitzGibbon, disse ao ministro do Interior nigerino, general Mohamed Toumba, que os EUA tomaram nota da decisão nigerina em cancelar o acordo militar e o pedido de desligamento será discutido pelas duas partes. Milhares de soldados franceses já foram expulsos no ano passado.
Segundo as investigações realizadas por Phil Miller, repórter-chefe do Declassified UK, helicópteros da Força Aérea Real realizaram mais de 100 missões no Níger e em Burkina Faso, antes desses países e do Mali se rebelassem contra o permanente colonialismo francês na África Ocidental.
Durante a Guerra Contra o Terror, Estados Unidos e França estacionaram tropas no Níger num suposto esforço para reprimir os ataques de extremistas islâmicos bem instrumentalizados pelo imperialismo do otanistão.
Recentemente, a presença dos EUA e França tornaram-se impopulares depois de não terem conseguido impedir a onda de violência na região como consequência da derrubada do regime de Gaddafi na Líbia. Derrubada essa, perpetrada por eles mesmos e demais membros da OTAN, cujas consequências foi a aniquilação da Líbia como um país e um Estado organizado em 2011.
O Níger é um dos países mais pobres do mundo, apesar de ser um grande exportador de urânio para centrais nucleares. Pouco se soube do envolvimento britânico na chamada campanha antiterror da França no Níger.
A RAF fez apenas uma referência das suas participações nas missões no Níger em um comunicado de imprensa sobre um destacamento para o Mali.
A força militar do Reino-Unido disse que os helicópteros Chinook de rotor duplo “chegaram pela primeira vez à África Ocidental em julho de 2018, a fim de fornecer capacidade aerotransportada no suporte de carga pesada para Op Barkhane [da França]. Os Chinooks realizam regularmente movimentos de tropas, missões de reabastecimento e de apoio logístico às bases operacionais avançadas francesas e aos locais desérticos em torno do Mali, Burkina Faso e Níger.” Embora os relatórios públicos tenham centrado nas operações Chinook no Mali, os voos transfronteiriços aos demais países escaparam ao escrutínio público.
O repórter Phil Miller descobriu que os Chinooks da RAF realizaram 57 operações partindo do Mali para o Níger entre fevereiro de 2019 e junho de 2022, e mais de 58 operações para Burkina Faso. Os dados foram divulgados após um pedido pela lei de liberdade de informação ao Ministério da Defesa britânico (MoD).
A RAF não mencionou publicamente as missões no Níger até meados de 2021, altura em que os Chinooks já tinham realizado 39 missões no país.
Os registros mostram que ocorriam até três saídas transfronteiriças por dia, transportando dezenas de soldados franceses e toneladas de mantimentos, saindo da base em Gao, uma região remota do Mali, os Chinooks voaram para a capital do Níger e partes do Burkina Faso, a um custo de mais de 13 milhões de libras por ano.
Urânio
As recentes rebeliões desses países no Sahel preocuparam as elites da OTAN, que temiam que o grupo Wagner da Rússia preenchesse o vazio e comprometesse o fornecimento de urânio. O grupo Wagner tem combatido grupos terroristas a pedido desses países há alguns anos e são bem quistos pela população e governos.
Em 28 de março, o Chefe de Estado do Níger, General Tiani, falou ao telefone com o presidente russo Vladimir Putin. Segundo declarações do governo nigerino, as discussões centraram-se na necessidade de reforçar a cooperação em matéria de segurança entre a Rússia e o Níger para enfrentar as ameaças atuais. A imprensa nigenira comunicou que posteriormente ao telefonema, Moscou manifestou a sua “disponibilidade para ativar o diálogo político e desenvolver uma cooperação mutuamente benéfica em diversas áreas”. “Também foi realizada uma troca de pontos de vista sobre a situação na região do Saara e do Sahel, com ênfase na coordenação de ações para garantir a segurança e a luta contra o terrorismo ”.
Segundo a mesma imprensa, Echos du Niger, ocorreu uma recente reunião onde não houve uma discussão clara sobre o envio de forças russas para solo nigerino, no entanto, não se descarta a possibilidade de um acordo desse tipo, após as tropas estadunidenses retirarem-se da região de Agadez. Na reunião estava o primeiro-ministro Ali Mahaman Lamine Zeine, o ministro da Defesa, general Salifou Mody, e o ministro do Interior, general Mohamed Toumba. Não passou despercebido a ausência do Chefe do Estado-Maior, Moussa Salaou Barmou, treinado pelos americanos, se opõe de forma contínua e é visível à sua contrariedade num acordo de cooperação militar com a Rússia.
Pepe Escobar, jornalista investigativo independente brasileiro e especialista em análises geopolíticas, publicou sua excelente análise do porquê o imperialismo está tão preocupado com a rebelião desses países no Sahel. O que Pepe Escobar chamou de “O Eixo da Resistência do Sahel”.
Enquanto isso, a gigante estatal energética francesa EDF, que gere todas as centrais nucleares da Grã-Bretanha, disse a uma comissão parlamentar do Reino Unido, meses após o golpe:
“O Canadá e o Cazaquistão representam mais de 50% do nosso fornecimento de minério de urânio. O Níger continua a ser uma fonte significativa, mas devido à recente instabilidade, a nossa grande cadeia de abastecimento foi flexibilizada para cobrir qualquer interrupção e não foram observados problemas.”
O Ministro da Segurança Energética britânico, Andrew Bowie, foi incapaz de dizer aos deputados, onde a Grã-Bretanha obteve o seu urânio, uma vez que “o fornecimento de combustível para as centrais nucleares civis operacionais do Reino Unido é uma decisão comercial do operador da central”.
As tropas britânicas retiraram-se do Mali em novembro de 2022, na sequência da rebelião anticolonial, supostamente encerrando todas as operações de Chinook na região do Sahel.
Em entrevista ao Declassified UK, Abdoul Kader Amadou Mossi, da Associação da Diáspora dos Nacionais da República do Níger no Reino Unido (Darn-UK), disse: “Queremos o exército francês fora do Níger”.
Durante um protesto em frente à embaixada francesa em Londres, Mossi explicou: “Apesar das presenças [da França e Reino Unido], os terroristas estão matando muitas pessoas. Não há paz em nosso país.”
Acrescentou: “Antes da intervenção da OTAN na Líbia, os nossos líderes africanos, especialmente o meu presidente, abordaram Barack Obama e os líderes ocidentais para chamar a sua atenção para não intervir na Líbia porque… isso iria afetar toda a região . Eles não o ouviram… e depois da morte de Gaddafi, o regime caiu, mas não há mais paz.”
A recente visita de Macron ao Brasil
Muito diferente do noticiado pela imprensa brasileira, a recente visita do presidente francês, Emmanuel Macron, ao Brasil (27/03) [Vídeo: Lula e Macron lançam ao mar o submarino Tonelero], não teve nada, nada a ver com fechar um acordo comercial entre União Europeia e Mercosul, até porque os franceses são contra, nem mesmo em preservar a Amazônia, menos ainda em doar para a preservação ambiental.
Macron veio ao Brasil porque precisa de fornecedores de urânio e o Brasil é o 7° país com maior reserva de urânio, contando apenas as jazidas já mapeadas, além de ser um país “amigo” da França.