Em 10 de outubro passado, a Saab, empresa sueca fabricante dos caças Gripen adquiridos pelo Brasil, publicou em seu site a intimação feita pelo Departamento de Justiça dos EUA (DoJ) à sua subsidiária americana, Saab North America, Inc. O DoJ solicita informações sobre a aquisição de 36 aeronaves de caça Gripen E/F para as Força Aérea Brasileira em 2024.
O jornalista veterano Luis Nassif, diretor do Jornal GGN, tem investigado os boicotes dos EUA, com a conivência das Forças Armadas brasileiras, a aquisição de equipamentos militares que libertem o Brasil da dependência e controle dos EUA. Além do ataque à soberania brasileira minando qualquer tentativa de se construir uma indústria de defesa nacional própria, sempre com a conivência dos militares brasileiros.
Em 22 de julho passado, no artigo “Como o Departamento de Estado dos EUA interrompeu os acordos de defesa Brasil-França”, o jornalista antecipou os problemas que agora surgem, em relação aos Gripen adquirido pela FAB.
Desde a comprovada espionagem americana sobre Lula – levantada pelo jornalista Fernando de Moraes, que conseguiu junto à justiça americana a abertura de documentos sigilosos – não deveria ser surpresa para ninguém, assim como a constatação dos interesses norte-americanos do golpe do impeachment, escreve Luis Nassif.
Com Lula e Dilma, o Brasil procurava uma diversificação de parcerias que permitisse um desenvolvimento menos dependente. E o campo da defesa era central, pelos avanços tecnológicos proporcionados e pelo fato do Brasil ter fincado os pés no setor, através da Embraer e das experiências com satélites, inaugurada em 2002 com o lançamento do primeiro satélite geoestacionário brasileiro, o SC-2, para comunicação e monitoramento do tempo.
Durante a aquisição de novos caças ao Brasil, “um dos pontos centrais da licitação, que inclusive pesava contra os F-15, era não depender de aviões que contivessem peças norte-americanas, dado o alto grau de controle exercido pelo Pentágono. Nesse contexto, o Rafale, da francesa Dassault, emergiu como favorito, especialmente após a visita de Lula a Nicolas Sarkozy, que selou a parceria.
Além de não ter nenhuma dependência de tecnologia norte-americana, a Dassault se comprometia a montar uma fábrica no Brasil que serviria para vender para toda a América Latina e Sul Global. O interesse da França estava na existência de uma inteligência tecnológica brasileira. O Rafard seria fabricado em São José dos Campos, através de uma spinoff, ou seja, da criação de uma nova empresa, condição imposta por Lula para assegurar a transferência de tecnologia.
Além disso, a compra do Rafale abriria caminho para uma parceria em satélites.
Com a cumplicidade da Lava Jato e da Operação Zelotes, a geopolítica americana conseguiu atrasar a construção do submarino, em uma conspiração que atingiu o presidente da França e a Odebrecht. No artigo “Xadrez do submarino nuclear e o novo pré-sal” mostramos a parceria Procuradoria Geral da República-Departamento de Estado norte-americano para inviabilizar o submarino, resultando no ato mais infame da Lava Jato: a prisão do Almirante Othon.
O procurador suíço Stefan Lenz, braço americano da Lava Jato, foi acionado para comprometer o presidente francês Nicolas Sarkozy e, com isso, chantagear a França para que a Alston vendesse sua turbina – peça central do acordo dos submarinos – para a General Eletric. A cumplicidade era tão grande que, quando foi afastado do Ministério Público suíço por abusos cometidos, Lens foi convidado pelo então PGR Rodrigo Janot para atuar como assessor no Brasil.
O grande responsável pelo desastre do Gripen foi o então Ministro da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro Juriti Saito, um americanófilo radical. E, depois, o Ministério Público Federal do Distrito Federal, que tentava reeditar, com suas operações, o mesmo esquema da Lava Jato com sua fundação.
Saito era tão apaixonadamente americanista, que recusou-se a entrar em um Rafale, para um vôo demonstração. Quem entrou foi um civil, o Ministro da Defesa Nelson Jobim.
Saito insistia no americano FX. Quando ocorreu a espionagem americana em Dilma, ela reagiu e se negou a adquirir o equipamento americano. Mesmo porque, os EUA ficariam com pleno controle, podendo anular os aviões em qualquer conflito que não fosse de seu interesse.
O golpe do Gripen
Não foi o único boicote que se abateu sobre os acordos Brasil-França.
O segundo golpe foi anterior, na licitação FX, para adquirir os caças da Aeronáutica. Venceu a Saab, sueca, com seu avião, o Gripen.
Até hoje o Brasil não viu o Gripen voar, assim como não viu transferência de tecnologia – uma das imposições do acordo. O Brasil está se limitando a montar os aviões com todas as peças sendo enviadas prontas da Suécia.
Quando o Gripen voar, não terá capacidade de atravessar o país. Se sair do Amazonas, terá que fazer uma parada em Goiás para se abastecer, antes de chegar no Rio Grande do Sul. E terá lugar apenas para um piloto. Ultimamente, a Saab, fabricante do Gripen, prometeu melhorar sua capacidade e construir um avião para dois pilotos. Mas são apenas projetos.
A licitação FX foi a grande esperança de início da modernização das Forças Armadas. O Plano Nacional de Defesa, lançado no período de Nelson Jobim, como Ministro da Defesa, previa um modelo de força enxuta, tecnológica e com capacidade rápida de locomoção, já que as ameaças externas ao país vinham da fronteira do Amazonas (pelos traficantes) e da costa marítima.
O grande responsável por esse desastre, da escolha do Gripen, foi o então Ministro da Aeronáutica Tenente-Brigadeiro Juniti Saito, um americanófilo radical, cego aos interesses nacionais. Ele assumiu o comando da Aeronáutica em 2007. No final do seu governo, Lula teve oportunidade de substituí-lo por outro, de pensamento mais nacionalista, mas demorou a decidir e o candidato foi para a reserva. Saito foi mantido no cargo por Dilma Rousseff até 2015.
No início da licitação, Saito vendeu para Dilma que a escolha deveria recair sobre o americano F15. Nunca foi contestado. Aí apareceram, no Wikileaks, as notícias sobre espionagem americana, e Dilma desistiu da proposta.
Um dos pontos centrais da licitação, que inclusive pesava contra os F-15, era não depender de aviões que contivessem peças norte-americanas, dado o alto grau de controle exercido pelo Pentágono. Nesse contexto, o Rafale, da francesa Dassault, emergiu como favorito, especialmente após a tal visita de Lula a Nicolas Sarkozy, que selou a parceria.
Além de não ter nenhuma dependência de tecnologia norte-americana, a Dassault se comprometia a montar uma fábrica no Brasil que serviria para vender para toda a América Latina e Sul Global. O interesse da França estava na existência de uma inteligência tecnológica brasileira. O Rafard seria fabricado em São José dos Campos, através de uma spinoff, ou seja, da criação de uma nova empresa, condição imposta por Lula para assegurar a transferência de tecnologia.
Saito era tão apaixonadamente americanista, que recusou-se a entrar em um Rafale, para um voo demonstração. Quem entrou foi um civil, o Ministro da Defesa Nelson Jobim.
Além disso, a compra do Rafale abriria caminho para uma parceria em satélites. Sobraram na disputa um caça russo, o Rafale e o Gripen. Saito escolheu o Gripen, apesar dos alertas de que sua aviônica era americana, e poderia ser alvo de boicote sempre que alguma decisão contrariasse os Estados Unidos.
Agora vem o boicote. Tentam ressuscitar até a infame Operação Zelotes atribuindo a Lula a decisão de Saito. É mais uma demonstração clara de que a subordinação das Forças Armadas brasileiras aos Estados Unidos fez com que abandonassem de vez seus compromissos com a segurança nacional. São Forças Armadas pequenas de um país que esqueceu de crescer.