Desde o mês passado, quando o governo do Quênia propôs uma nova lei fiscal, iniciou-se um surto de protesto pelo país. Rapidamente, as manifestações se alastraram e foram se tornando cada vez mais violentas, com dezenas de mortos. Nesta segunda (15/07), o presidente queniano, Willian Ruto, que é um governo pró-estadunidense, veio a público e acusou a Fundação Ford de ter iniciado os protestos violentos.
Willian Ruto disse que “ou ela [Fundação Ford] muda sua abordagem ou vai embora completamente”.
Os protestos e conflitos no Quênia continuam aumentando em grande escala e entraram em confronto contra a polícia. Mesmo com Ruto fazendo concessões e anunciando que o projeto seria devolvido ao Parlamento para reconsideração, como uma típica Revolução Colorida, os protestos deixaram de ser contra a reforma fiscal e passaram a ser pela renúncia e derrubada de Ruto.
O analista geopolítico, Andrew Kurybko, publicou logo no início dos protestos (30/06), que “a agitação violenta no Quênia não se tratava de uma revolta anti-americana”. A Comissão Nacional de Direitos Humanos do Quênia afirmou que até agora pelo menos 50 pessoas morreram nos protestos e outras 59 foram raptadas ou estão desaparecidas.
Ruto afirma que a Fundação Ford dos Estados Unidos é um dos “bastidores” dos protestos violentos. Ele disse em discurso no dia 15: “Aqueles que apoiam o caos na República do Quênia são vergonhosos porque apoiam a violência contra nosso país democrático. Quero perguntar às pessoas da Fundação Ford quais são os benefícios que elas obtêm ao patrocinar a violência?
Ele apelou à Fundação Ford para parar de apoiar a violência: “Estamos a dizer-lhes que se não estiverem interessados na democracia no Quênia, se apoiarem a violência no Quênia, se apoiarem a anarquia, iremos criticá-los. Precisamos dizer para que mudem de atitude ou saiam daqui.”
A Fundação Ford nega a acusação e insiste que não financiou os protestos e que “adere estritamente às políticas apartidárias” no que diz respeito à concessão de financiamento. O site independente The Grayzone publicou diversas investigações comprovando que a Fundação Ford ajuda a Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA) em muitas Revoluções Coloridas e lançou golpes de Estado em vários países da América Latina, recentemente junto unida a fundação Bill Gates, uma no Zimbabué.
O Governo anunciou que realizará “conversações multissectoriais” esta semana para abordar as queixas dos manifestantes. Mas os principais organizadores dos protestos rejeitaram o convite de diálogo com o governo e agora exigem ação imediata contra a corrupção.
O Secretário de Estado dos EUA, Blinken, telefonou a Ruto no final de junho e saudou as medidas de Ruto para aliviar as tensões. O Departamento de Estado disse num comunicado que Blinken enfatizou a Ruto “a importância das forças de segurança exercerem moderação e se absterem de violência” e encorajou “investigações rápidas sobre alegações de abusos dos direitos humanos”.
A Al Jazeera destacou que o governo queniano gasta mais de 30% das suas receitas no pagamento da dívida, o que coloca o governo queniano num “dilema”: por um lado, os credores exigem que o Quênia reduza o déficit; mas o custo de vida da população pobre continua aumentando. A Bloomberg disse que devido à retirada da lei fiscal pelo governo Ruto, o Ministério das Finanças do Quênia prevê que o déficit orçamental do país se expandirá para 3,6% do PIB neste ano fiscal. A agência de classificação internacional, Moody’s, baixou a classificação de crédito do Quénia para Caa1 de B3 na semana passada,