Por VeritXpress
Esta semana, o presidente Lula iniciou uma série de visitas importantes para uma maior integração Brasil e países latino-americanos. É imprescindível ao Brasil, que busca ser uma liderança do Sul-Global, inclusive, como uma forma de se defender do imperialismo estadunidense, cujas perdas de controle em diversos países do Oriente, obriga-o a garantir maior controle total das Américas, sob risco de perder todo o Ocidente.
Para tal, o Brasil angariar apoio dos países regionais, o principal objetivo desses encontros é estreitar laços, buscar investimentos e acordos em torno de prioridades comuns, deixar de virar as costas ao continente americano.
Agência do Governo Brasileiro – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou como convidado da 46º Conferência de Chefes de Governo da Comunidade do Caribe (CARICOM), nesta quarta-feira (28/2), em Georgetown, capital da Guiana, onde Lula destacou as oportunidades de integração entre Brasil e países do Caribe
Para o presidente, luta contra a fome, combate às desigualdades sociais e enfrentamento às consequências das mudanças climáticas são prioridades comuns entre os países.
“Sabemos dos principais problemas que atingem a região: a insegurança alimentar, que ameaça metade da população caribenha, e a mudança do clima, que coloca em risco todo o planeta, sobretudo os países insulares. Quero ressaltar que esses dois problemas têm a mesma raiz: a desigualdade. Portanto, a luta contra a desigualdade é também a luta das populações caribenhas”, disse Lula no evento.
“Não é possível que em um planeta que produz comida suficiente para alimentar toda a população mundial, cerca de 735 milhões de seres humanos não tenham o que comer. Não é possível que os países ricos, principais responsáveis pela crise climática, continuem descumprindo o compromisso de destinar US$ 100 bilhões anuais aos países em desenvolvimento, para o enfrentamento da mudança do clima. Não é possível que o mundo gaste por ano US$ 2,2 trilhões em armas. Todos sabemos: guerras provocam destruição, sofrimento e mortes, sobretudo de civis inocentes”, recordou Lula.
Integração Regional
O presidente também falou da importância de ampliar a cooperação e a integração entre o Brasil e os países da região, especialmente em termos de transporte e logística. A falta de voos e vias terrestres é algo que precisa ser discutido e corrigido, segundo ele.
“Ouvi da primeira-ministra Mia Mottley que Barbados tem 27 voos semanais para o Reino Unido e para os Estados Unidos e nenhum para o Brasil. Portanto, o nosso maior obstáculo é a falta de conexões, seja por terra, por mar e pelo ar. Uma das rotas de integração e desenvolvimento prioritárias para meu governo é a do Escudo Guianense, que abrange a Guiana, o Suriname e a Venezuela. Queremos, literalmente, pavimentar nosso caminho para o Caribe. Abriremos corredores capazes de suprir as demandas de abastecimento e fortalecer a segurança alimentar da região”, explicou.
Para tratar desses assuntos, vários ministros ligados à área de infraestrutura viajaram com o presidente na delegação nacional na Guiana: Renan Filho (Transportes), Sílvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional) e Simone Tebet (Planejamento e Orçamento).
“Nossa relação pode ir além do intercâmbio de boas práticas e de atividades de capacitação. Vemos no bloco um parceiro econômico promissor e um interlocutor político estratégico. O Brasil já é o quinto maior fornecedor da CARICOM. Nossa corrente de comércio foi de US$ 2,7 bilhões no ano passado, mas já havia superado US$ 5 bilhões em 2008, o que demonstra o potencial de crescimento. A APEX identificou mais de mil oportunidades de inserção de produtos brasileiros nos países da Comunidade. Ocorre que bens e serviços não circulam onde não há vias abertas. Belém, Boa Vista e Manaus estão mais próximas do Caribe do que de outras grandes cidades brasileiras”, lembrou.
Encontros bilaterais com Chefes de Estado de vários países
Após a reunião, o presidente teve uma reunião bilateral com a primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, e outra trilateral com os presidentes da Guiana, Irfaan Ali, e do Suriname, Chan Santokhi. Na quinta, 29 de fevereiro, o presidente teve uma bilateral com o presidente da Guiana e depois viajou para Kingstown, capital de São Vicente e Granadinas, no Caribe.
Presidente Lula se reuniu com presidente da Guiana, Irfaan Ali
Na quinta-feira (29/02) os dois líderes conversaram sobre as relações comerciais entre os países e a possibilidade de maior integração logística e de infraestrutura na região, para estreitar a integração e a relação comercial entre os países. O compromisso ocorreu logo após a 46ª Conferência de Chefes de Governo da Comunidade do Caribe (CARICOM).
“Queremos muito contribuir para que a Guiana possa transformar esse momento econômico excepcional em um maior desenvolvimento social e humano”, disse Lula.
No início do encontro, o presidente guianense prestou uma homenagem a Lula ao nomear de “Sala Lula” o local onde a reunião aconteceu, no Centro de Conferências Arthur Chung, em Georgetown. “Seu sorriso e sua luminosidade são o que queremos para o futuro da Guiana”, disse Ali ao mostrar a foto oficial do terceiro mandato do presidente brasileiro pendurada na parede. “Mais bonita que o meu gabinete”, agradeceu Lula.
O presidente do Brasil também destacou que o governo brasileiro está interessado em desenvolver com a Guiana temas como a integração logística, a segurança alimentar, as energias, o combate ao crime transnacional, e a paz na região. “Estamos dispostos a discutir com a Guiana o financiamento ao desenvolvimento das infraestruturas que irão integrar os nossos países”, afirmou.
Lula sugeriu que Ali visitasse o Brasil com uma comitiva de empresários, para mostrar aos investidores brasileiros como a Guiana é um local atrativo economicamente. “Queremos muito contribuir para que a Guiana possa transformar esse momento econômico excepcional em um maior desenvolvimento social e humano”, frisou, ao mencionar que quer participar da construção de portos, estradas e vias aéreas que liguem o Caribe à região norte do Brasil.
O setor petrolífero está em pleno desenvolvimento na Guiana, após a descoberta de expressivas jazidas no país, e o presidente Ali expressou expectativa de que a Petrobras se envolva mais na exploração. O presidente brasileiro afirmou, em resposta, que vai tratar com a empresa, sobre possibilidades de parceria com a Guiana. “Lembrando que a Petrobras hoje não é só uma empresa de petróleo e gás, mas de energia de uma forma mais ampla, com uma dimensão importante na produção de energias renováveis”, pontuou Lula.
O presidente da Guiana agradeceu Lula, durante a reunião, pelo engajamento histórico do presidente brasileiro com a região, pela liderança e pela defesa da paz e da prosperidade dos países em desenvolvimento.
Ali destacou o crescimento da Guiana, lembrando que o país já foi o segundo país mais pobre do hemisfério ocidental e um dos mais endividados do mundo. Porém, após iniciar a exploração de petróleo e gás, a economia guianense teve crescimento recorde, de quase 400%, entre 2021 e 2023 (de US$ 8 bilhões para mais de US$ 40 bilhões). A visita consolida uma relação comercial cada vez mais ampla.
“Vi a inauguração da primeira ponte entre Brasil e Guiana, entre Bonfim Lethem, no seu governo, e foi um momento histórico para a nossa relação. Lembro de tudo que planejávamos fazer para a integração logística dos nossos países. E é uma alegria muito grande ver que podemos realizar grande parte desses projetos hoje, com recursos próprios e com acesso a financiamento”, disse Irfaan Ali.
O presidente guianense afirmou que está focado em utilizar as riquezas do país para investir no desenvolvimento social e humano, além da infraestrutura para o desenvolvimento da região. Disse também que a Guiana dará total prioridade à integração física e logística com o Brasil. “Vemos o Brasil como parte integral da nossa economia.
Por fim, o líder brasileiro destacou a importância de uma participação de Irfaan Ali na 8ª Cúpula de Chefes de Estado e Governo da CELAC (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos) em São Vicente e Granadinas, prevista para hoje (01/03), “para que a gente mantenha nosso continente e nossa região como uma zona de paz”, disse Lula ao final.