A Marinha dos EUA divulga um documento descrevendo seus planos para igualar e superar a meta de modernização da marinha chinesa até 2027 anunciada por Pequim.
O cronograma de reformas militares chinês com previsão de atualização e modernização até 2027, colocou os EUA, adeptos da doutrina militar de que quem controla os mares controla o mundo, em inquietação. A indústria naval chinesa constrói mais navios, em menor tempo e a um custo muito menor do que os EUA conseguem produzir anualmente.
Segundo relatório do ano passado feito pelo Gabinete de Inteligência Naval dos EUA estima-se que a China tem 232 vezes a capacidade de construção naval dos Estados Unidos, devido à sua indústria de construção naval muito maior. Entretanto, a Marinha dos EUA afirma que seu novo plano seria por receio que a China se prepara para invadir a ilha de Taiwan em 2027.
O novo Plano de Navegação 2024 da Marinha dos EUA, liderado pela Almirante Lisa Franchetti, foca na preparação para um potencial conflito com a China até 2027. O Projeto 33 é o centro dessa estratégia, visa aumentar a vantagem de longo prazo e a prontidão operacional da Marinha. O plano prioriza a modernização de equipamentos e a melhoria das capacidades de implantação de força, particularmente ao aumentar o uso de sistemas robóticos e autônomos para respostas rápidas e decisivas, especialmente na região Indo-Pacífico.
O projeto 33 traz duas metas principais: atingir 80% de prontidão de combate para navios, aeronaves e submarinos até 2027 e integrar tecnologias avançadas como inteligência artificial e sistemas não tripulados. Visando fortalecer a capacidade da Marinha de responder efetivamente a ameaças emergentes, focando especificamente em manter a superioridade no Indo-Pacífico.
A Marinha dos EUA pretende desenvolver três prioridades principais: fogos de longo alcance e negação de navegação não tradicional e terminal de defesa. Fogos de longo alcance permitiriam que a Marinha dos EUA ataque de uma distância segura usando mísseis avançados e armas guiadas com precisão, aumentando a projeção de poder. A negação de navegação não tradicional emprega métodos como guerra cibernética, drones e operações eletromagnéticas para bloquear o acesso do adversário a áreas marítimas estratégicas. O Terminal de Defesa se concentra na proteção de ativos navais com sistemas avançados de mísseis e antiaéreos projetados para interceptar ameaças em sua fase final.
A Marinha dos EUA pretende aprimorar suas capacidades de comando e controle desenvolvendo Centros de Operações Marítimas (MOCs), essenciais para a guerra em nível de frota. Esses centros servem para coordenar forças navais em ambientes de múltiplos domínios, incluindo terra, mar, ar, espaço e ciberespaço. Os MOCs são para gerenciar informações em tempo real, direcionar movimentos de frota e supervisionar funções-chave como inteligência, logística e comunicações.
Franchetti enfatiza a necessidade de espelhar a modernização militar da China, principalmente na integração de tecnologias como inteligência artificial, para permanecer competitiva em um campo de batalha cada vez mais baseado em informações. A Marinha planeja certificar MOCs em todas as sedes da frota, começando pela Frota do Pacífico. Esses centros aprimorarão as funções de comando e controle, inteligência, incêndios e sustentação, impulsionando a tomada de decisões e as capacidades operacionais durante crises e conflitos.
A Marinha dos EUA revela estar estudando de perto os conflitos globais atuais para moldar sua abordagem para o futuro controle do mar. Entre conflitos citados estão o uso eficaz de mísseis, drones e ferramentas digitais pela Ucrânia contra as forças russas fornecendo informações importantes para as estratégias militares dos EUA, particularmente para potenciais conflitos no Indo-Pacífico. As lições que drones e mísseis balísticos usados pelos Houthis no mar vermelho desempenharam de forma eficaz contra a Marinha dos EUA
Veículos não tripulados e sistemas de armas desempenharam um papel crucial na guerra moderna, como os usados na Ucrânia e no conflito Armênia-Azerbaijão de 2020. Sistemas autônomos e operados remotamente, como drones, provaram ser altamente eficazes para reconhecimento, ataques de precisão e interrupção da logística inimiga, tudo sem arriscar vidas humanas. Reconhecendo essa mudança, Franchetti priorizou a integração de sistemas não tripulados, incluindo drones navais e veículos subaquáticos não tripulados (UUVs), nas operações da Marinha dos EUA.
Os UUVs são considerados tecnologias-chave em operações navais modernas. Esses sistemas vêm em dois tipos: veículos subaquáticos autônomos, que operam de forma independente, e veículos operados remotamente por um operador. Esses drones navais ou subaquáticos realizam tarefas como vigilância, detecção de minas e monitoramento ambiental. Franchetti vê esses sistemas robóticos como o futuro da guerra, não apenas por sua eficiência, mas por sua capacidade de liberar marinheiros para outras tarefas vitais.
“Ao implantar sistemas autônomos para missões como vigilância ou combate, a Marinha pode realocar pessoal humano para áreas onde sua expertise é mais necessária, aumentando a flexibilidade operacional e a prontidão geral”.
O plano da Marinha dos EUA prioriza a integração de sistemas robóticos e autônomos em operações de rotina até 2027, garantindo seu uso ativo por comandantes em grupos de ataque expedicionários e de porta-aviões. O foco está em melhorar a coordenação entre equipes tripuladas e não tripuladas, particularmente em áreas como vigilância, incêndios, logística e engano. Esta iniciativa é parte de uma estratégia mais ampla para aprimorar o comando, o controle e a eficácia operacional geral em ambientes complexos e multidomínio.
O Plano de Navegação da Marinha diz priorizar a manutenção de um Indo-Pacífico livre e aberto, garantindo que rotas marítimas críticas, como o Estreito de Malaca e o Estreito de Taiwan, permaneçam acessíveis ao comércio global. Entretanto, a realidade é que os EUA pretendem negar essas rotas marítimas comerciais aos navios de carga chineses isolando.
A estratégia chinesa é a de negação de área (A2/AD) visando limitar a capacidade dos Estados Unidos e seus aliados de fechar áreas-chave, como os mares da China Oriental e Meridional. Central para a doutrina militar da China, a A2/AD busca mudar o equilíbrio estratégico, dificultando a intervenção de forças externas no que Pequim considera sua esfera de influência.