Nesta quarta (06/11), foi anunciada a vitória eleitoral de Donald Trump à presidência dos EUA. Trump fez barba, cabelo e bigode, venceu com uma larga diferença, tanto em números de delegados como no voto popular. Também causou uma maré vermelha, os Republicanos, seu partido, fez a maioria no Senado e Câmara. No entanto, o mais relevante são as lições que sua vitória traz.
As pesquisas eleitorais “erraram” feio novamente, deram longa dianteira da Kamala Harris até próximo às eleições, quando começaram a adequar a aberrante discrepância para um quase empate, mesmo assim, continuaram afirmando uma vitória da Kamala Harris. Já quem optou por seguir as informações nada usuais dos sites e casas de apostas souberam que Trump estava na dianteira. Nada como o medo de perder dinheiro ou a chance multiplicá-lo. Mesmo pela completa falta de credibilidade das agências de pesquisas, a pesquisa de boca de urna realizada pela Edison Research, entre eleitores que declararam voto em Kamala ou Trump evidenciam informações relevantes:
Dos eleitores que disseram ter como maior preocupação a economia, 79% votaram em Trump, contra 20% em Kamala. Dentre esses eleitores, cerca de 31% disseram que a economia era a principal questão, contra 35% que disseram ser a democracia a mais importante. A pesquisa da Edson mostrou que 45% dos eleitores em todo o país disseram que a situação financeira de suas famílias estava pior hoje do que há quatro anos em comparação com apenas 20% em 2020. Esses eleitores escolheram Trump em vez de Kamala por 80% a 17%.
Sobre a subida da inflação – a qual os americanos não estão acostumados e seus salários diminuíram no Governo Briden – os eleitores disseram que a inflação lhes causou uma dificuldade moderada no último ano, enquanto quase um em cada quatro disse que causou uma dificuldade severa. Aqueles que disseram que causou uma dificuldade moderada inclinaram-se um pouco mais para Trump, 50% a 47%.
Nesta eleição presidencial americana, Trump prometeu aprofundar o corte de impostos, reduzir a inflação, recuperar a indústria americana e adotar políticas protecionistas para aumentar empregos. Enquanto, a campanha de Kamala usou a política de ganhar votos através do medo e demonização do adversário de extrema-direita, e assim, manter a política de permanecer tudo como está, se eleita.
Apesar de Kamala ter recebido o apoio de importantes sindicatos, incluindo o UAW, a AFL-CIO e o Service Employees International Union, enquanto Trump recebeu um apoio sindical limitado de membros do Sindicato dos Teamsters, os trabalhadores passaram por cima de seus sindicatos e votaram em Trump. Trump e seu vice, J.D. Vance, têm um longo histórico de discursos pró-trabalhadores, mesmo sendo mera retórica eleitoral.
Várias reportagens mostraram relatos de eleitores que escolheram votar em Kamala por medo de Trump ao invés das propostas políticas da ex-vice-presidente. Analistas se assustaram porque até mesmo latino e negros votaram em Trump, apesar dele ter dito em campanha que deportará latinos ilegais e que esses comem animais de estimação. Nem o fator da Kamala ter sido escolhida como vice de Biden e agora a candidata à presidência por ser mulher e negra fez qualquer efeito entre esses eleitores.
As promessas de mudança sócio-econômicas de Trump venceram a defesa do abstrato genérico; pela democracia, pelo negro, pela liberdade, pela mulher. Outro sinal, do esgotamento da política identitária, a qual defende a escolha do livro pela capa ao invés de pela essência. Ignora-se a historicidade, classe social, o que os indivíduos defendem e suas ações durante a vida. A própria Kamala Harris é um exemplo dessa política, a mulher e negra Kamala, quando promotora na Califórnia causou a prisão em massa de negros jovens e mulheres negras de baixa renda que não conseguiam enviar seus filhos as escolas..
A imprensa brasileira reproduziu a imprensa americana, afirmando que os índices econômicos comprovaram a melhoria na economia durante o governo Biden. Ocorre que essas planilhas com símbolos numéricos desenhados não refletem a economia real. Quando eleito, Biden foi chamado de um novo Roosevelt keynesiano, mas nada do que prometeu foi aplicado. Nem sequer o projeto de trazer a indústria de volta ao território dos EUA foi levado adiante [Falha a tentativa de reindustrialização dos EUA], milhares de trabalhadores perderam empregos e os novos são subempregos precarizados, há 2 meses houve anúncio de greve que paralisaria todo os EUA [Greve na Boeing e iminente greve de portuários preocupa economia dos EUA].
O poder de compra do americano diminuiu, as famílias estão mais endividadas, as pessoas não conseguem pagar dívidas estudantis, nem hipotecas, hospitais etc. A economia da guerra só gerou fortunas para uma elite, o dinheiro não irradiou para o resto da sociedade e ainda custou bilhões ao Orçamento Federal. Por essas razões é que a promessa de Trump de diminuição de impostos foi ainda melhor recebida.
A vitória de Trump foi apenas a prova dos nove do que os resultados eleitorais das recentes eleições para o parlamento francês, alemão e da União Europeia sinalizaram, mas marqueteiros, analistas, classe política, partidos, imprensas em geral e até militantes se recusam a ouvir:
- 1º – O esgotamento do uso eleitoral do medo dos espantalhos do fascismo, extrema-direita, da civilização versus a barbárie e do risco à democracia.
- 2º – O esgotamento dos neoliberais progressistas, política identitária e esquerdas gerentes do neoliberalismo defensoras do sistema [A esquerda compatível].
- 3º – Os números das planilhas econômicas que não representam a realidade na economia real. A população não come PIB, nem símbolos números desenhados em papéis timbrados.
A política do medo dos espantalhos está sendo usada desde 2017, quando foi bem-sucedida para Macron. Eleito Presidente da França com 66,10% dos votos, após conseguir unir sindicatos e partidos à esquerda em nome de derrotar a candidata de extrema-direita Marine Le Pen.
Macron, seguidamente reeleito, repetiu em todas as eleições a mesma fórmula, mas quando no poder, aprofundou cada vez mais a política neoliberal e o arrocho da população, dando pequenas cenouras ao aprovar leis de costumes. E assim, o eleitor vota a contra gosto no candidato, escolhendo-o por ser o mal menor. Desde então esse método eleitoral e forma de aprofundar a política neoliberal tem sido seguido por todo o ocidente.
O método Macron deu certo para ele até julho deste ano, quando nas eleições parlamentares francesas, as esquerdas não se uniram a ele contra Le Pen e se juntaram derrotando ambos. Em resposta, Macron ignorou o resultado eleitoral e ao formar o governo montou uma aliança misturando seus neoliberais e a extrema-direita derrotada nas urnas.
Na América Latina, o método Macron também falhou na Argentina e os dois próximos que irão amargar a falha serão o Chile de Boric e, a continuar nessa toada, o Brasil de Lula.
Quanto ao futuro governo Donald Trump, mesmo ele tendo vencido as eleições pelas questões materiais, “é a economia estúpido”, seu governo continuará a usar a “guerra cultural”, com a ajuda e alimentada em comum acordo com os Democratas. Republicanos e Democratas têm as mesmas políticas neoliberais, só se diferenciam na aparência pelo uso da sinergia entre a corrente Alt Right e Woke – chamadas no Brasil de Bolsonarismo e Política Identitária.
Ademais, interessa manter a população em cismogênese, brigando e defendendo soluções no mundo simbólico; pronomes neutros, proibição de sinônimos, censuras de autores e obras por julgamento morais anacrônicos, revisionismo histórico e afins; é impeditivo para a demagogia do sistema bipartidário do regime estadunidense que as discussões por questões materiais; política econômica, crise do capitalismo, concentração de renda et caterva retorne à sociedade.