Semana passada, Pepe Escobar, jornalista e analista geopolítico, gravou um programa em seu canal “Pepe Café”. Apresentado direto do Turquistão, antiga Hazrat-i Turkestan, no Cazaquistão, após o jornalista ter passado alguns dias cercados por ilustres analistas do mundo todo no Fórum de Astana 2024. Neste episódio, Pepe Escobar analisa a divisão do mundo em cinco blocos, durante este momento de transição em que os países buscam uma civilização multipolar, enquanto os EUA criam divisões e conflitos militares.
Pepe Escobar: os 5 blocos e os 5 fronts de batalha no mundo
Para Escobar, neste momento o mundo está sendo dividido em blocos pelos EUA, na tentativa de impedir a nascimento de um mundo multipolar.
O 1º Bloco é ocidente na visão dos países centrais, ou seja, os membros são apenas os EUA e Europa. Continua sendo o bloco mais poderoso, pois controla o sistema financeiro internacional. No entanto, o bloco ocidental se encontra com profundas fissuras internas. Os EUA estão fragmentados em uma guerra-civil larval.
(Com um agravante, há um aumento considerável de imigrantes ilegais dos mais diversos países latinos entrando nos EUA via fronteira mexicana. Os conservadores estadunidenses acreditam agora que os imigrantes fazem parte de uma guerra-híbrida financiada por ONGs e países inimigos, com o objetivo de destruir a cultura americana, substituindo-a pela dos latinos. Portanto, abre-se aí, mais uma ruptura na sociedade estadunidense.)
A União Europeia está cindida entre os países que seguem a obsessão política de Bruxelas em permanecer vassalos dos EUA e aqueles que cansaram de bancar os gastos das guerras eternas do Império decadente estadunidense em sua busca de se manter um hegemon. A toda “nem” tão poderosa OTAN está na mesma situação. (O veterano general da reserva estadunidense, Douglas Macgregor em recente entrevista afirmou crer que após a humilhante derrota da OTAN em sua guerra por procuração na Ucrânia, a organização irá se cindir, porém, morrerá sem estardalhaços, perdendo seus membros e relevância silenciosamente).
O 2º Bloco é o sino-russo, bloco que leva o mundo para o multipolarimo. A parceria estratégica sem limites entre Moscou e Pequim é inconcebível para os bem-pensantes neoconservadores estadunidenses.
Diversos analistas ocidentais, inclusive brasileiros, continuam apostando que as divergências passadas entre China e Rússia irão causar uma ruptura. Um dos exemplos mais quistos citados por eles, é que Vladivostok já pertenceu à China e foi tomada pela Rússia, e o chineses nunca perdoariam a perda do território. Entretanto, Moscou anunciou a abertura dos portos de Vladivostok aos chineses, algo incompreensível para esses analistas ocidentais. Além do mais, a Rússia acaba de declarar algo inédito em sua relação com o país vizinho, a Rússia irá fornecer toda e qualquer tecnologia militar que a China necessite para se defender, sem restrições.
O Não Bloco, trata-se de um Bloco ilusório, seria a pretensão da Índia em liderar os países do antigo grupo dos “Países não Alinhados”, cerca de 120 países. No entanto, nenhum dos demais países veem Nova Délhi como tal. A índia é islamofóbica, além do mais, ainda tem mais de 600 milhões de cidadãos excluídos do milagre econômico, o que a torna instável internamente e a mantém classificada apenas como uma potência regional.
O 3º Bloco é o mais complexo por suas fissuras internas, são as terras do Islã cujos países não são apenas arábicos, mas também africanos e asiáticos. Salienta-se a importância da Indonésia, por exemplo. Apesar das divisões religiosas históricas, há uma possibilidade ímpar de que estes países se unam. Justamente pela ação mais aterradora desde a Segunda Guerra Mundial, o genocídio da população palestina perpetrado por Israel. Algo que proporcionalmente e pelos números de assassinados civis por minuto, superam o assassinato em massa perpetrado por nazistas aos judeus.
A indignação das populações desses países está aos poucos os unindo, apesar de todas as divisões religiosas e políticas entre mulçumanos do Oriente-Médio à Indonésia. Como comprova a recente aproximação diplomática entre o Egito e Irã. (Irã e Egito negociam retorno das relações diplomáticas após 40 anos). Soma-se a aproximação dos principais países da região pelo BRICS Plus, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes.
O 4º Bloco são os países africanos e suas inerentes divisões internas.
O 5º Bloco é América-Latina, que agora está com uma divisão interna entre os dois mais importantes de seus players, Brasil e Argentina. A recente eleição argentina do, infiltrado dos EUA, Milei. Ainda não é possível dimensionar se essa divisão permanecerá ou se a população argentina derrubará o novo morador da Casa Rosada, o homem da serra-elétrica, Javier Milei.
Os 5 fronts militares que podem se multiplicar em diversas frentes
1º Front, Rússia vs OTAN – Front na guerra por procuração ucraniana. A qual os estadunidenses estão desesperados procurando um cessar-fogo. Moscou já deixou claro que está disposta a fazer um acordo, desde que seja sobre as condições estipuladas por si.
2º Front, Israel vs toda a civilização islâmica – Os ataques criminosos de Israel, não é apenas contra a população palestina, está se espalhando por diversos grupos e países arábicos cuja ponta de lança tem sido os hutis iemenitas, grupos iraquianos e os libaneses do Hezbollah.
3º Front – A rebelião anticolonial da África Ocidental contra a França, que está sendo expulsa da região. No momento, fazem parte 4 ou 5 Estados, os quais recentemente anunciaram a criação da Aliança Sahel, e é questão de tempo para os demais países africanos se multiplicarem, o que levará a extinção dos vassalos franceses na região.
4º front – Taiwan (EUA) vs China. É apenas um desejo dos EUA, mas é o mais importante. Taiwan é uma espécie de cavalo de troia na tentativa de desestabilizar a china. É a única guerra que realmente importa aos EUA, todas as outras são efeitos colaterais na busca por uma vitória contra a China. Entretanto, não interessa um conflito militar, nem aos chineses, nem aos taiwaneses.
5º front – Venezuela vs Guiana por Essequibo. Contudo, parece estar momentaneamente pacificado, após as negociações diplomáticas entre os respectivos chefes de Estado. Todavia, nada impede que os EUA acirrem as hostilidades.
Ou criem muitos outros fronts em qualquer latitude e longitude do mundo. Neste exato momento se está construindo um novo Front nos Bálcãs. Como a recente tentativa de guerra-híbrida na Sérvia. (Diplomata russa denuncia tentativa de guerra-híbrida na Sérvia).