Por Marcus Atalla
Marcos Del Roio, autor e docente do curso de filosofia da Unesp, descreveu o projeto do Estado neoliberal que está sendo construído na tentativa de salvar o capitalismo. Para ele, essa é uma crise existencial do sistema. O capitalismo financeiro não apenas aumenta a concentração de renda, mas também não produz mais riqueza o suficiente nem mesmo para o desenvolvimento cultural e humano. Os PIBs dos últimos anos demonstram isso, a maioria dos países não consegue um PIB maior que 1,5% a 2,5% ao ano (referência 2022). A exceção é a China, que não é um sistema capitalista, mas sim, um sistema próprio. Hoje há apenas um fetichismo por novos aparelhos tecnológicos.
A população se tornou disfuncional sendo vista tão-somente como dispêndio de riquezas. Ela não serve mais para gerar riqueza comprando bens, mas sim, como mão de obra superexplorada. Tendo-se 30% da população para consumir, o resto só precisa ter o suficiente para pagar dívidas de crédito e se alimentar, mantendo-se viva para voltar ao trabalho no dia seguinte. Com a chegada da indústria 4.0, altamente robotizada, a população será um problema. Algumas projeções descrevem que cerca de 70% da população mundial não terá sequer vaga de emprego, e as vagas remanescentes serão altamente especializadas. Com a automação de veículos, nem mesmo o emprego de Uber ou entregador existirão. E isso está mais próximo do que as pessoas acreditam, questão de mais 10 a 20 anos.
O projeto de Estado, já em construção, é um Estado mínimo (neoliberal) e autoritário, pois terá que reprimir as revoltas das massas. A população não ficará passiva sem empregos impossibilitando a sua sobrevivência e a de seus filhos. Para tanto, os aparelhos de repressão serão aumentados, judiciário, segurança pública, capitalismo de vigilância, leis mais duras, censura e o militarismo, cuja finalidade será reprimir revoltas internas, ou seja, o inimigo a ser combatido é a própria população do país. Seja considerado como futurismo ou não, dos pontos citados por Roio, todos eles estão em pleno desenvolvimento no Brasil e outros países pelo mundo, a olhos vistos. Inclusive a censura, contudo, não são só os autoritários que a estão defendendo, esses só plantaram a semente, são os que se acham democratas que a estão irrigando. A percepção da sociedade foi preparada, o punitivismo e a censura normalizada e legitimada.
Este artigo foi publicado originalmente no Portal GGN.