Por VeritXpress
O governo argentino de Javier Milei deu mais um salto em seu alinhamento absoluto aos Estados Unidos. Assinou um acordo permitindo a instalação de militares norte-americanos na estratégica Hidrovia Paraná-Paraguai.
A Hidrovia Paraná-Paraguai é estratégica militarmente, economicamente e dá acesso a cinco países do Cone Sul, Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai. É uma das maiores bacias de água doce do mundo e a rota por onde saem mais de 80% dos produtos exportáveis argentinos (grãos, farinhas e óleos, entre outros produtos), num mercado disputado principalmente por empresas norte-americanas como ADM, Bunge, Cargill, Dreyfus e a chinesa COFCO.
Sabe-se que os Estados Unidos consideram o aumento de comércio e parcerias econômicas entre BRICS e China com a América Latina, uma ameaça à sua segurança nacional e à sua competitividade global.
Segundo a mídia argentina, Página 12, a Autoridade Geral dos Portos (AGP) ratificou um memorando de entendimento, permitindo a chegada do Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA. A oposição argentina denunciou que a medida “ataca a soberania nacional” e solicitou que o Chefe da Casa Civil, Nicolás Posse, compareça ao Congresso para explicar as implicações do acordo.
A AGP informou que se trata de um processo de colaboração conjunta na troca de informações e gestão da Hidrovia, o pacto permite a presença dos militares dos Estados Unidos na rota fluvial mais importante da Argentina, por onde passam quase todas as exportações do país.
Segundo o comunicado da AGP, “o acordo permitirá aprofundar a troca de informações entre as duas administrações, com foco na eficiência e na criação de novas formações em aspectos de gestão portuária e hidroviária navegável, manutenção da navegação e equilíbrio ambiental, bem como desenvolvimento de infraestrutura, entre outras áreas”,
O acordo foi selado pelo auditor da AGP, Gastón Benvenuto, pelo secretário de Empresas Estatais e Empresas do Chefe do Estado-Maior da Nação, Mauricio González Botto, pelo embaixador dos Estados Unidos, Marc Stanley, e pelo representante do Corpo de Engenheiros Americano, Adrian McConnell.
Segundo Benvenuto, o acordo permitirá “aproveitar o conhecimento técnico norte-americano para melhorar os sistemas de gestão de recursos, dragagem e modernização de balizamentos, e aprofundar a formação de pessoal técnico”. “É um exemplo perfeito de como os nossos países podem conectar especialistas técnicos para melhorar a gestão da nossa infraestrutura crítica”, acrescentou o embaixador norte-americano, Stanley.
A oposição argentina manifestou a sua preocupação com a falta de transparência e a perda de soberania que isso implica. O deputado Eduardo Toniolli destacou que não foi informado a presença de funcionários do Itamaraty ou dos Ministérios da Defesa. “Também não foi apresentado ao Congresso Nacional argentino o pedido de autorização para entrada de tropas estrangeiras em nosso país, conforme estabelece a Lei 25.880”, acrescentou Toniolli.
“É um fato muito grave que merece mais explicações. É um acordo com um país que evidentemente procura aumentar a sua influência hemisférica sobre a América Latina e envolve uma força armada estrangeira.” “Ataca claramente a soberania nacional de forma estratégica do ponto de vista geopolítico e económico”, acrescentou o ex-deputado Guillermo Carmona.
A Hidrovia também tem um importante papel na segurança nacional nos países da região, é foco de atenção devido ao crescimento do tráfico de drogas. “É a principal via por onde passam as drogas que chegam à Europa”, disse o ex-chefe da Federação Agrária Argentina, Pedro Peretti.
Há um grande agravante nessa questão de “suposto” combate ao narcotráfico, carteis de drogas e traficantes na região. Os EUA, com a conivência de Estados vassalos na América do Sul, estão aumentando seu número de bases e militares na região. Recentemente, o Equador aprovou leis que permitem tropas dos Estados Unidos em seu país, com a desculpa de combater o tráfico de drogas.
Desde o golpe no Peru, em 2022, com a derrubada do presidente eleito Pedro Castillo, os EUA têm militares no país, primeiro sob o pretexto de resolver a conturbação social, e a agora, nesta semana o Ministro das Relações Exteriores peruano, Javier González-Olaechea, reuniu-se com o Secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, para um acordo bilateral; afim de formar um grupo de trabalho para combater o crime organizado transnacional.
.@SecBlinken: Me reuní con el Canciller peruano @J_GonzalezOFr para conversar sobre nuestros objetivos compartidos de seguridad, democracia, y prosperidad inclusiva en las Américas. Espero con entusiasmo nuestro primer diálogo de alto nivel y la Reunión de Líderes Económicos de… https://t.co/G1GcTOODNm
— Embajada EEUU Perú (@USEMBASSYPERU) March 14, 2024
Ademais, a agenda traz as mesmas velhas retóricas usadas pelos os EUA para dominar os países, inclusive militarmente, que não seguem seus interesses econômicos, democracia, direitos humanos, segurança regional, comércio, investimento, migração e, recentemente introduzida, proteção ambiental.
Em 2019, o Brasil, sob o Governo Bolsonaro, em uma articulação que se início após o golpe de 2016, aprovou a entrega da Base de Alcântara aos EUA, cuja a localização permite o controle total da navegação no Atlântico Sul, da costa da África à América do Sul.