Nesta tarde de 5 de agosto, em Bangladesh, país com uma população de 170 milhões, o Chefe do Estado-Maior, Waker-Uz-Zaman, confirmou a renúncia da primeira-ministra Hasina e um governo interino será formado por militares.
Protestos eclodiram no país contra a restauração do “sistema de cotas no serviço público”. A imprensa local noticiou que Hasin apresentou sua renúncia ao presidente Mohammad Shehabuddin. Logo em seguida, o líder militar Zaman dirigiu-se à população, dizendo que uma solução para a crise seria encontrada “esta noite” e instou estudantes que protestavam a se acalmarem.
Consecutivamente reeleita e ocupante do cargo há 15 anos, Hasina fugiu de helicóptero pouco depois dos manifestantes terem invadido a sua residência oficial na capital, Dhaka. A sua equipe de segurança a convenceu a deixar o local às pressas e segundo afirmado pela imprensa local, uma fonte disse que Hasina partiu primeiro em comboio e depois de helicóptero, sem especificar o destino.
Zaman afirmou que antes de proferir o seu discurso se reuniu com representantes dos partidos políticos e da sociedade civil para negociar um governo provisório. Ele apelou para que a população tenha fé nos militares e prometeu que “todos os assassinatos serão levados à justiça”.
Os protestos iniciaram em junho, mas no dia (04) eclodiram conflitos violentos em manifestações por todo o país, resultando na morte de mais de 100 pessoas e centenas de feridos. Um grande número de manifestantes ignorou o recolher obrigatório e saiu às ruas de Dhaka, a capital, e invadiu o Gabinete da Primeira-Ministra.
O “Dhaka Tribune” de Bangladesh disse que por volta das 14h30, horário local, do dia 5, Hasina deixou o país com sua irmã em um helicóptero militar e se dirigiu para um “lugar mais seguro”. O jornal citou fontes que afirmaram que as duas partiram para o estado indiano de Bengala Ocidental.
A causa das manifestações violentas em todo o país reside no “ressurgimento” do “sistema de cotas no serviço público”. Desde que Bangladesh conquistou a independência em 1971, implementou-se um “sistema de cotas” no setor público do governo, reservando alguns cargos para determinados grupos.
Em 2012, a proporção de empregos no setor público atribuídos através do sistema de cotas chegou a 56%. Até 30% dos cargos são reservados para “combatentes pela liberdade” (veteranos que participaram da Guerra de Libertação de Bangladesh em 1971) e seus descendentes. Alguns cargos também são reservados para mulheres (10%), minorias étnicas (5%) e pessoas com deficiência (1%). Em 2018, após o início de protestos em todo o país contra o “sistema de cotas de serviço público”, o governo de Bangladesh anunciou a abolição do sistema.
Desde do Covid-19, a taxa de desemprego em Bangladesh é alta. Os dados mostram que dos 170 milhões de habitantes, mais de 30 milhões de pessoas estão sem trabalho ou educação. A restauração do “sistema de cotas da função pública” causou extrema insatisfação entre a juventude do país.
Até agora, os protestos resultaram em mais de 200 mortes e pelo menos 11 mil prisões. Os tumultos também levaram à suspensão de aulas escolares em todo o país e as autoridades impuseram medida de recolher obrigatório. Na manhã do dia 5, soldados e policiais nas ruas de Dhaka usaram veículos blindados e arame farpado para bloquear a estrada que levava ao Gabinete da Primeira Ministra, um grande número de pessoas saiu às ruas derrubando os bloqueios.