Na terça-feira (26/11), Israel declarou um acordo de cessar-fogo com o Líbano, no discurso de anúncio o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu fez uma ameaça direta ao presidente sírio Bashar al-Assad, alertando-o sobre “brincar com fogo”. Algumas horas depois, começaram ataques militares à Síria por grupos terroristas e mercenários, seguido de uma enxurrada de desinformações de guerra sobre a tomada de Aleppo, combates em Damasco entre outras, propagadas simultaneamente pelo mundo todo, a partir da imprensa americana e reproduzida pela imprensa ocidental.
Sob a liderança de Hayat Tahrir al-Sham (HTS), antiga Frente Al-Nusra – franquia da Al-Qaeda e ISIS – e o Partido Islâmico do Turquistão (TIP)- o Exército Sírio Livre e as Forças Democráticas Sírias, compostas por curdos do YPG, avançaram sobre as cidades de Aleppo, Idlib e Hama. Essas cidades não foram ocupadas como afirmou a imprensa ocidental. Nas últimas 48 horas, as forças aéreas russas realizaram bombardeios de mísseis e artilharia contra os locais invadidos pelos extremistas. O Exército Árabe Sírio (SAA) avança em uma contra ofensiva, cercando e expulsando os invasores em vários eixos no interior de Aleppo, Hama e Idlib.
Bombardeio russo ao norte de Aleppo:
Russian airstrike targets central command headquarters of Hayat Tahrir al-Sham (formerly Nusra Front) in the northern Aleppo countryside. pic.twitter.com/8QX2svnv9J
— The Cradle (@TheCradleMedia) December 1, 2024
Bombardeio russo em Idlib:
Russian warplanes are now conducting airstrikes on Idlib city pic.twitter.com/3NU3mXGCWG
— Abbas عباس (@zead454) December 1, 2024
O objetivo do HTS e demais não parece ter sido ocupar essas regiões, dado a velocidade do avanço em caminhonetes civis com metralhadoras é impossível ocupar e defender esses territórios. Essas células dormentes foram acionadas para outros fins. Foram identificados o uso de drones e equipamentos ucranianos, além do auxílio da inteligência ucraniana aos terroristas. O foco desses grupos é a estrada internacional M5 – a qual desce de Aleppo ao sul da Síria, margeando toda a fronteira com o Líbano. Além de milhares de outras conexões, a M5 também se conecta a M4, a qual vai até o Iraque.
O 1º objetivo, imediato, é cortar a linha logística de armas e suprimentos do Irã para o Hezbollah no Líbano. Além disso, o Hezbollah que atuou na defesa de Damasco contra esses mesmos grupos no passado, não pode fazê-lo agora. Israel já quebrou o acordo de cessar-fogo.
Os curdos não são um povo coeso como a imprensa afirma. São diversas tribos, cada qual luta por seus interesses, mudam de lado se a proposta do outro lado for melhor e se necessário lutam entre si. A Milícia Popular Democrática (YPG), grupo curdo que de democrático não tem nada, é um proxy da Turquia a qual fornece inteligência e equipamentos. Ancara tem interesse em tomar o norte da Síria e se apossar dos campos de petróleo, os quais têm sido roubados pelos EUA e revendidos pelos curdos desde 2015.
Ontem, o Kremlin soltou uma nota oficial que Vladimir Putin conversou por telefone com o presidente da República Islâmica do Irã, Masoud Pezeshkian, e ambos apoiarão “incondicional às ações das autoridades legítimas da síria para restaurar a ordem no país”. Putin pressionou o presidente turco, Erdogan, e marcou um encontro diplomático entre a Rússia, Irã e Turquia, nos dias 7 e 8 de dezembro em Doha no Catar. O Catar também financia vários desses grupos. Tudo leva a crer que mesmo com um convencimento da Turquia e Catar, o caos na Síria continuará a ser alimentado por um longo período.
O 2º objetivo, com a iminente derrota na Ucrânia, é mover a guerra de desgaste contra a Rússia e agora também contra o Irã para o território sírio. Dessa vez turbinada com as armas desviadas pelos ucranianos das toneladas enviadas à Ucrânia pelos EUA e aliados. EUA/OTAN aumentarão exponencialmente as guerras regionais, fraudes eleitorais, golpes de Estado e Revoluções Coloridas pelo mundo.
Nas últimas semanas, fraudou-se a eleição na Moldávia, interferiu-se na eleição da Romênia, a Geórgia passa pela segunda Revolução Colorida em menos de seis meses. Desde maio foram confirmadas a tentativa de desestabilizar de alguma dessas formas a Venezuela, Sérvia, Quênia, Congo, a bem-sucedida em Bangladesh e outras não confirmadas, mas em andamento, Coreia do Sul e Moçambique.
Sobre a Síria, desde 2013, assim como hoje, nunca houve uma guerra civil entre sírios para derrubar Bashar al-Assad, foram grupos jihadistas do Turquistão, dos Uigures, ISIS, Al-Qaeda. Todos preparados, armados e treinados pela inteligência britânica, americana, israelense e OTAN. Juntos a mercenários de diversos países – ao ponto da população síria testemunhar que as línguas mais faladas por esses grupos são europeias ao invés do árabe. O objetivo sempre foi derrubar Assad e fragmentar o território sírio assim como foi feito com a Líbia. [Ouça a série de podcast documental, “O Coração do Mundo”, produzido a partir de 2015 pelo brasileiro Ivan Mizanzuk, em especial, o “Cap. 8, onde se entrevista Ahmed, um sírio que fugiu da guerra se refugiando no Brasil em 2013].