O Brasil 247 relatou um trecho do programa Pepe Café (06/12) realizado direto de um café na França, onde o jornalista e analista geopolítico Pepe Escobar falou sobre a ofensiva jihadista contra a cidade de Aleppo, na Síria. Pepe afirma que o ataque reflete uma complexa articulação entre Estados Unidos, Israel, Turquia e grupos jihadistas, com graves consequências para o equilíbrio geopolítico na Ásia Ocidental.
“A conquista de Alepo é um projeto americano há muito tempo”, afirmou Escobar. Ele destacou que a ofensiva foi precedida por encontros estratégicos entre altos representantes de inteligência israelense, turca e da OTAN, que coordenaram a ação em conjunto com grupos jihadistas. Segundo ele, esses atores visam desestabilizar o chamado “Eixo da Resistência” — uma aliança formada por Irã, Síria, Hezbollah e Rússia —, isolando o Irã de suas conexões estratégicas com o Líbano e o Mediterrâneo Oriental.
O papel da Turquia e a traição no processo de Astana
Escobar também apontou para a contradição do papel turco nesse cenário. Oficialmente, a Turquia é uma mediadora no processo de paz da Síria, conduzido com o apoio de Rússia e Irã. Contudo, o analista acusa o governo de Recep Tayyip Erdogan de facilitar a passagem de terroristas pela fronteira e armar os grupos jihadistas que lideraram o ataque.
“Nenhum desses jihadistas pode acender um fósforo sem que a inteligência turca saiba. É claro que há um apoio implícito”, acusou. Ele também sugeriu que a Turquia pode estar sendo usada para enfraquecer suas relações com os outros parceiros do processo de Astana, gerando desconfiança e divisão.
Tecnologia de guerra e interesses globais
O analista ainda expôs a colaboração tecnológica entre jihadistas de aluguel e ucranianos, que teria resultado no uso de drones kamikaze, sistemas de guerra eletrônica e inteligência artificial para desmantelar a comunicação do exército sírio. Esse intercâmbio reforça a conexão entre os conflitos na Síria e na Ucrânia, compondo, segundo Escobar, uma estratégia unificada das “guerras eternas” promovidas pelos Estados Unidos e seus aliados.
A ofensiva jihadista resultou na tomada de grande parte de Alepo em apenas 48 horas, deixando o governo sírio e seus aliados em uma posição delicada. “Se os Estados Unidos e Israel conseguirem realizar seu projeto de mudança de regime em Damasco, bloqueiam o acesso do Irã ao Mediterrâneo e garantem um vassalo estratégico na Síria”, alertou Escobar.
Ele também criticou o congelamento da guerra na região de Idlib em 2020, que permitiu a concentração de milhares de jihadistas na área, fortalecendo-os para ataques futuros.
“A Síria é o novo front de uma guerra que não vai acabar tão cedo. O que achávamos resolvido em 2020 apenas adiou o inevitável. Agora, as forças de Damasco terão que reconquistar Alepo em um processo extremamente difícil e custoso”, concluiu.
Ao fim do programa, Pepe Escobar adiantou que escreveria em sua coluna da semana sobre o tema, leia aqui: [Enigma sírio: como essa pode ser a Primeira Guerra dos BRICS].