Desde segunda-feira (25/11), um dilúvio de milhares de paquistaneses se uniram em protestos por todo o Paquistão. Os manifestantes estão sendo reprimidos com armas de fogo pela polícia e militares, segundo relatos são milhares de feridos e dezenas de mortos, especialmente na capital Islamabad. A população paquistanesa exige a libertação do ex-primeiro-ministro, Imran Khan, e de dezenas de milhares de ativistas do (PTI), partido Movimento pela Justiça ao qual Khan pertence.
Assim como no Brasil, Imran Khan foi derrubado em 2022 por um golpe de Estado idêntico ao golpe de 2016 no Brasil. Recorreu-se a um golpe jurídico-parlamentar com apoio dos militares por baixo dos panos. Com a diferença que no Brasil usaram de lawfare para prender o então ex-Presidente Lula, enquanto no Paquistão o lawfare foi utilizado para prender o próprio derrubado, o qual permanece preso desde 2023.
Passado esses 2 anos, nessa semana os protestos começaram novamente e dessa vez mais fortes que antes. O regime paquistanês cercou Islamabad com milhares de containers para isolar a capital, mas nem assim, conseguiu impedir a marcha dos manifestantes para a cidade vindos de todo o país. A um grande número de manifestantes vindos da província mais ao noroeste do país, Khyber Pakhtunkhwa (KPK) – a qual segundo o censo de 2023 tem cerca 19 milhões de habitantes – a maioria dos manifestantes são pashtuns das áreas tribais (FATA) na fronteira com o Afeganistão.
No início a polícia federal lançou gás lacrimogêneo e atirou com balas de borracha nas centenas de milhares que entraram em Islamabad. Incapazes de bloquear as manifestações, os generais ordenaram abertamente que se atire com balas de verdade indiscriminadamente contra a população.
As organizações médicas e de socorristas, como a Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho, declararam que uma das principais funções das forças policiais neste momento é impedir que alimentos, medicamentos e assistência médica consigam chegar à capital para tratar os milhares de feridos.
A Inter-Services Public Relations (ISPR), departamento de propaganda dos militares, está usando as rádios e outros meios de comunicação para propagar desinformação contra os manifestantes.
Escondem o fato de se tratar de um movimento popular de amplos setores da sociedade, afirmam tratar apenas de grupos de militantes do PTI. Também acusam os manifestantes de estarem armados, mas tanto os participantes como testemunhas negam o uso de armas pelos manifestantes e, até o momento, nenhuma das fotos das passeatas mostraram o uso de armas, exceto pelas forças de segurança.
A Al Jazeera e a CGTNA flagrou a Inter-Services Intelligence (ISI) – agência de inteligência paquistanesa – infiltrando seus agentes em meio às manifestações para praticarem distúrbios, vandalismos e assassinatos, e assim, responsabilizando os manifestantes. Há relatos da renúncia de muitos funcionários indignados da (ISI) pelo uso da agência contra a população paquistanesa e que não querem mais participar disso.
Junaid S. Ahmad, professor e diretor do Centro de Estudos do Islã e de Descolonização (CSID) em Islamabad, relata que muitos dos seus alunos, soldados e oficiais militares, estão ignorando as ordens superiores e recusam-se a atirar contra o seu próprio povo. Pela recusa desses militares de baixa patente, muitos dos homens dos altos escalões militares são vistos comandando diretamente as forças policiais.
O alto comando militar paquistanês está mobilizando todo e qualquer pessoal da segurança para cercar a prisão em Rawalpindi e impedir que a população tente libertar a força, o ex-primeiro-ministro Khan.
Breve contextualização sobre Imran Khan e sua derrubada em 2022
Eleito em 2018, Imran Khan gozava de enorme popularidade dos paquistaneses e da população de fora do Paquistão. Ele despontava como uma nova liderança do mundo islâmico, crítico aos EUA pelo uso do Paquistão como desestabilizador da região, foi contra a Guerra ao Terror, fazia discursos anti-colonial os quais retumbavam na população islâmica além das fronteiras paquistanesas, afastou o Paquistão dos EUA e aproximou o país da Rússia, da China e principalmente das novas rotas da Seda (BRI) – o Paquistão é um importantíssimo nó no Belt and Road Initiative.
Ademais Khan governa independente das Forças Armadas paquistanesas que não conseguiam o controlar. Assim como no Brasil, os militares paquistaneses estão metidos na política, deram inúmeros golpes de Estado, quando não estão derrubando governantes eleitos, estão controlando a política nas sombras.
Em 2022, Imran Khan foi acusado de corrupção, derrubado por voto de desconfiança no Parlamento, aprovado pela Suprema Corte paquistanesa, com o aval dos militares, sem tropas na rua. As Forças militares paquistanesas são umbilicalmente ligadas às Forças Armadas dos EUA e seus interesses (idêntico ao Brasil).
Milhões de paquistaneses foram às ruas em protesto contra o golpe e a subsequente prisão de Khan. Preso desde agosto de 2023, quando foi condenado a 3 anos de prisão por corrupção, correm contra si mais de 120 processos e acusações. Em janeiro deste ano foi condenado a mais 10 anos de prisão por “divulgar segredos de Estado”. Maiores detalhes aqui [EUA promovem golpe à lá Brasil, desta vez no Paquistão].