Nesta segunda-feira (25/11), os agricultores franceses iniciaram mais uma série de protestos e prometem intensificá-los nos próximos dias. O estopim é o acordo comercial entre o Mercosul e União Europeia, mas a raiva tem motivos mais profundos.
Os franceses estão sendo considerados pelo setor agrícola dos demais países contrários ao acordo da UE e Mercosul como os líderes de uma “resistência”. Em novembro passado os protestos dos agricultores alemães alastraram por vários países na União Europeia, nessa nova série espera-se que ocorra o mesmo. Ontem, os manifestantes bloquearam a autoestrada A9 que é uma rota comercial crucial entre a Península Ibérica e o resto da Europa.
“Queremos causar caos e escassez de alimentos”, acrescentando que o bloqueio pode durar vários dias, enquanto apontava para “um rio de frutas e vegetais recém chegados da Espanha” e “vamos bloquear a A9, assim como depósitos de combustível, portos e centros de compras”, disse os manifestantes.
Segundo as autoridades francesas, mais de uma dúzia de protestos ocorreram pouco antes do meio-dia de ontem, reunindo cerca de 900 agricultores e mais de 300 máquinas agrícolas.
Arnaud Rousseau, Presidente da organização agrícola FNSEA, falou à imprensa francesa que o livre comércio proposto pelo acordo, será a morte da agricultura, que não não conseguirá competir com a grande quantidade de carne produzida a baixo custo, açúcar barato e vinho barato do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
Ele afirma que o acordo seria dramático para os agricultores e também para os consumidores, porque aumentaria drasticamente os preços dos alimentos para a população francesa, cujo poder de compra está diminuindo.
A gota d’água foi o acordo UE e Mercosul, mas as razões são as promessas não cumpridas por Emmanuel Macron há cerca de um ano. O governo francês prometeu 60 medidas ao setor, incluindo mais subsídios, menos encargos administrativos, benefícios fiscais para o gasóleo agrícola, preços mínimos para produtos agrícolas atacadistas, entre outras..
Além disso, o primeiro-ministro francês, Michel Barnier, anunciou que pretende aumentar a austeridade e fará cortes nas despesas sociais e os impostos serão elevados. Enquanto isso, Marine Le Pen, a representante da extrema-direita francesa, aproveita-se da política econômica de austeridade neoliberal de Macron e ganha dividendos políticos. Ela tem feito seguidas declarações que não aceitará mais nada que ampute o poder de compra dos franceses.
Há mais de 10 anos em negociações entre os dois blocos econômicos, o acordo Mercosul e União Europeia é tão desastroso para o Brasil quanto para o setor agrícola europeu. Essa última versão do acordo foi negociada pelo governo integrista de Bolsonaro. Ele é benéfico apenas e tão somente ao agronegócio brasileiro que o apoia, entretanto, seria a aniquilação de uma necessária reindustrilização brasileira.
O economista, ex-vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, Paulo Nogueira Batista Jr. enfatiza que o acordo promove a “abertura quase total do mercado brasileiro, eliminação de impostos sobre importação, restrições a políticas públicas e concorrência desigual com corporações europeias”. “ Para que as empresas estrangeiras investiriam aqui se poderão abastecer o mercado brasileiro a partir das suas matrizes, livres de barreiras tarifárias?”, indaga Nogueira.
O Presidente Lula declara sistematicamente que o seu governo está pronto para assinar o acordo e só aguarda a assinatura do Presidente Macron. Lula sabe das consequências desse acordo para o Brasil, mas sabe também, que o setor agrícola europeu nunca permitirá esse aceite. O intuíto de Lula é deixar o peso político da recusa para Macron, dessa forma não se indisporá com o agronegócio brasileiro, nem com a imprensa corporativa nacional representante do capital especulativo internacional.
Para fugir do desgaste político, Macron anunciou que não apoiará o acordo UE e Mercosul. Porém, para ter a capacidade de bloqueá-lo em Bruxelas, ele precisa do voto de mais três Estados, para isso está negociando com Polônia, Áustria e Itália, os quais são críticos ao acordo. Até então, nada garante que Marcon será bem-sucedido no bloqueio.