Por Marcus Atalla
A Rússia denunciou a descoberta de cerca de 26 laboratórios mantidos pelos EUA, em solo ucraniano, responsáveis pelo desenvolvimento de armas biológicas. Os documentos foram entregues aos russos por trabalhadores ucranianos destes laboratórios. Como era de se esperar, de início, os Estados Unidos negaram chamando de “Teorias da Conspiração”. Em depoimento ao Congresso Americano a subsecretária de estado, a neocon Victoria Nuland, visivelmente tensa, admitiu a existência de instalações de pesquisa biológicas “médicas”. [vídeo].
Não apenas isso, mas os EUA estavam preparando uma false flag, noticiava que Moscou estaria preparando um ataque biológico à Ucrânia. No jargão militar, false flag é fazer algo e responsabilizar a vítima. O Conselho de segurança da ONU, “a nova Liga das Nações”, reuniu-se (11/03), e recusou as denúncias de Moscou. É nesse momento que o público fica preso em um labirinto cognitivo. Se na guerra a primeira vítima é a verdade, e se a imprensa OTAN faz parte do ecossistema da desinformação, quem fala a verdade é Moscou ou Washington/ONU?
Ocorre que as denúncias não são novas, nem foi a Rússia a primeira a fazê-las, mais inverossímil ainda é crer que a ONU não soubesse. Foi necessário um conflito militar, para que se rompesse a desfaçatez. Enquanto a população ucraniana estava sendo assassinada pelo regime “naziestadunidense”, desde 2014, não importava, pois, as mortes eram silenciosas. Talvez seja mais humano quando as mortes ocorriam às escondidas, longe dos olhos elas não causam indignação, agora que estão à vista, não dá para fingir que não se sabe.
Por falta de pedidos de mediação não foi. O embaixador russo Lavrov, por anos e anos, implora sem sucesso à ONU e aos países europeus por meios diplomáticos. Iraque, Líbia, Síria, Palestina, Iêmen, Afeganistão, não faltam exemplos, foi necessário um país com poderio nuclear, recorrer à força, a uma guerra, para só então, ser ouvido. Não se trata de justificar as ações de um lado ou de outro, trata-se de algo muito mais sério. As instituições criadas para dirimir os conflitos e trazer uma “segurança”, não estão o fazendo. Há uma falência de todo o sistema criado pós-Segunda Guerra Mundial.
A jornalista investigativa independente búlgara, Dilyana Gaytandzhieva é correspondente das guerras no Oriente-Médio, até que em 2016, cobrindo a batalha de Aleppo (Síria), descobriu armazéns com armas vindas da Europa. Após esse fato, recebeu documentos diplomáticos revelando uma rede secreta de envio de armas internacionais, feito através de 350 voos diplomáticos. A partir de então, começou a investigar a produção de armas biológicas pelo Exército dos EUA. Mascaradas por uma cobertura diplomática, cientistas de guerra biológica testam vírus artificiais em laboratórios biológicos do Pentágono em 25 países.
Os EUA financiam pela Defense Threat Reduction Agency (DTRA), um programa militar de US$ 2,1 bilhões (valores de 2018) – Cooperative Biological Engagement Program (CBEP). Esses laboratórios estão localizados em países da ex-União Soviética, como Geórgiae Ucrânia, Afeganistão, Armênia, Uganda, Tanzânia, Iraque, Afeganistão, Vietnã,Oriente Médio, Sudeste Asiático e África. Dilyana produziu diversas matérias detalhadas, que ao todo ultrapassam 88 páginas, cujo conteúdo vai de documentos, contratos, codinomes de projetos governamentais, empresas particulares terceirizadas, valores, fotos, localizações, a relatos de moradores infectados. [Para acessar todos os documentos e as matérias completas, clique no link nas datas das publicações].
Nesses laboratórios de Biossegurança Nível 3 do Pentágono estão biólogos da Unidade de Pesquisa Médica do Exército dos EUA, juntamente a empreiteiros privados. Essas áreas são acessíveis apenas aos cidadãos dos EUA com habilitação de segurança, os quais recebem imunidade diplomática sobre cooperação em defesa, embora não sejam diplomatas, podem trabalhar livremente no Estado anfitrião. Essa é a prática costumeira usada pela CIA na cobertura de seus agentes.
(Refletindo sobre o método – Como foi mesmo o acordo entre os EUA e Brasil na concessão da Base de Alcântara? Prevê uma área onde só os estadunidenses terão acesso, fechada aos brasileiros sem prévia autorização deles. Hummm? – Fim da reflexão).
Neste presente artigo, focar-se-á principalmente nos casos referentes à Ucrânia, objeto da controvérsia atual. Porém, antes de chegar-se a Ucrânia, há nos relatórios o desenvolvimento de patógenos e formas de transmissão bem interessantes.
Como:
Pesquisas na disseminação de diversos patógenos, por pó; de toxinas aerossolizadas; e avaliação da virulência de B. Pseudomallei (Melioidose).
- Muito utilizados em operações militares dos EUA são o Aedes Aegypti e o Aedes Albopictus – mosquito-da-febre-amarela, dengue, chikungunya e do vírus Zika, além da criação de mosquitos transgênicos para disseminar vírus transgênicos.
- Coleta e estudo de morcegos hospedeiros e reservatórios do vírus Ebola e da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS)– este é da mesma família do Coronavírus responsável pelo COVID-19. Porém, o primo do oriente-médio é transmitido ao homem por camelos. Numerosos estudos foram realizados pelo DTRA Cooperative Biological Engagement Program (CBEP) em busca de patógenos mortais. Nas palavras da Dilyana, referindo-se ao MERS-CoV do Oriente-médio, NÃO ao CORONAVÍRUS da pandemia: “O MERS-CoV é um dos vírus projetado pelos EUA e estudados pelo Pentágono, assim como Influenza e SARS.” A confirmação dessa prática é a proibição temporária do financiamento do governo Obama, para essa pesquisa de “uso duplo”, em 2014. A moratória foi levantada em 2017 e os experimentos continuaram. Os experimentos de patógenos pandêmicos potenciais aprimorados (PPPs) são legais nos EUA. Tais experimentos visam aumentar a transmissibilidade e/ou virulência de patógenos.”
(Aos que se perguntam se consta Fort Detrick entre os relatórios, a resposta é sim, consta. Battelle Memorial Institute operou o laboratório Bio Top Secret, National Biodefense Analysis and Countermeasures Center – NBACC.).
A empresa norte-americana Metabiota Inc. recebeu contratos federais de US$ 18,4 milhões (valores de 2018) do programa DTRA do Pentágono na Geórgia e na Ucrânia para serviços de consultoria científica e técnica.
Bio-laboratórios do Pentágono espalham doenças na Ucrânia
O artigo publicado pela jornalista, em 29/04/2018, contêm diversos documentos demonstrando que o DTRA financiou 11 bio-laboratórios na Ucrânia. [aqui].
Pelo acordo de 2015, assinado entre o Ministério da Saúde ucraniano e os EUA, há cláusula de confidencialidade, a qual proíbe qualquer divulgação de informações sobre o programa ao público. A Ucrânia não tem nenhum controle sobre os bio-laboratórios militares. Também é obrigada a transferir os patógenos e as pesquisas para o Departamento de Defesa dos EUA. O Pentágono tem acesso aos segredos de Estado da Ucrânia conexos aos projetos sob o acordo.
No ano de 2016, pelo menos 20 soldados ucranianos morreram de vírus semelhante ao da gripe em apenas dois dias, com mais de 200 hospitalizados em Kharkiv, onde se localiza um bio-laboratório. Em março de 2016, mais de 364 mortes foram registradas em toda a Ucrânia (81,3% causadas pela gripe suína A (H1N1) pdm09 – a mesma cepa que causou a pandemia mundial em 2009).
Polícia investiga infecção por doença incurável
Nos locais onde ficam vários dos bio-laboratórios houve casos de infecções de Hepatites A, que se espalharam rapidamente pelo sudeste ucraniano, levantando grandes suspeitas.
Em 2015, mais de 100 pessoas na mesma cidade foram infectadas com cólera. A doença teria se espalhado através de água potável contaminada.
Em 2017, na cidade de Zaporizhia houve 60 pessoas com hepatite A internadas em hospitais, a causa do surto continua desconhecida.
Junho de 2017, na região de Odessa houve 19 crianças de um orfanato hospitalizadas por hepatite A.
Novembro de 2017, na cidade de Khakiv houve 29 casos de hepatite A. O vírus foi isolado em água potável contaminada. O laboratório biológico do Pentágono foi responsabilizado pelo surto de gripe que matou 364 ucranianos há um ano.
Janeiro de 2018, cidade de Mykolaiv, 37 pessoas foram hospitalizadas por hepatite A. As autoridades locais iniciaram investigação sobre uma possível “infecção pelo vírus da imunodeficiência humana e outras doenças incuráveis”.
Vibrio cólera
O Southern Research Institute é um dos principais subcontratados do programa DTRA, trabalha nos bio-laboratórios da Ucrânia, tem projetos sobre cólera, bem como sobre influenza e zika – Duas outras empresas americanas privadas que operam no país são a Black&Veatch e a Metabiota.
A Black & Veatch Special Project Corp. recebeu contratos com a DTRA de US$ 198,7 milhões para construir e operar bio-laboratórios na Ucrânia (totalizando US$ 128,5 milhões, por dois contratos de 5 anos em 2008 e 2012), bem como na Alemanha, Azerbaijão, Camarões, Tailândia, Etiópia, Vietnã e Armênia.
A Metabiota recebeu um contrato federal de US$ 18,4 milhões no âmbito do programa na Geórgia e na Ucrânia. Esta empresa também foi contratada para realizar trabalhos para o DTRA antes e durante a crise do Ebola na África Ocidental, recebendo US$ 3,1 milhões (2012-2015) para trabalhos em Serra Leoa.
Uma nova variante altamente virulenta do agente da cólera, com alta semelhança genética com as cepas relatadas na Ucrânia, atingiu Moscou em 2014.
Bioarmas Étnicas
Arma biológica étnica ou arma biogenética é uma arma teórica que visa prejudicar principalmente pessoas de etnias, ou genótipos específicos. Embora oficialmente a pesquisa e o desenvolvimento de armas biológicas étnicas nunca tenham sido confirmados publicamente, documentos mostram que os EUA coletam material biológico de certos grupos étnicos – russos e chineses. A Força Aérea dos EUA tem coletado especificamente RNA russo e amostras de tecido sinovial, aumentando o medo em Moscou de um programa secreto de armas biológicas étnicas.
(Talvez isso esclareça o porquê de Emmanuel Macron não ter permitido a coleta de seu sangue em recente visita a Putin, nem Putin permite o seu.).
Fonte: fbo.gov
Os EUA também coletam material biológico de pacientes saudáveis e com câncer na China. O Instituto Nacional do Câncer coletou amostras biológicas de 300 indivíduos de Linxian, Zhengzhou e Chengdu, na China. Enquanto outro projeto federal, intitulado Serum Metabolic biomarkers discovery study of Esophageal Squamous Cell Carcinoma in China, inclui a análise de 349 amostras de soro coletadas de pacientes chineses.
Vírus do sarampo do Afeganistão é culpado por surto mortal na Ucrânia (publicado em 01/05/18)
Um genótipo mortal do vírus do sarampo B3 (Cabul) está circulando na região de Odessa, alertaram as autoridades de saúde ucranianas. De acordo com o relatório da Administração Estatal Regional, pacientes de outras regiões da Ucrânia foram infectados com o genótipo europeu – D8 do vírus. Apenas na região de Odessa o genótipo B3 (Cabul) foi confirmado. É caracterizado por alta patogenicidade e virulência. Sua agressividade resulta em alta incidência de letalidade.
Um total de 9.091 pessoas, incluindo 3.270 adultos e 5.821 crianças, adoeceram com sarampo na décima terceira semana de 2018. Cinco crianças e dois adultos morreram. O número de casos de sarampo nos primeiros quatro meses do ano foi o dobro do número de casos relatados em 2017, cujos casos de sarampo haviam sido de 4.782 em comparação aos 9.091 de 2018.
Marthe Everard, representante da OMS na Ucrânia, disse em comunicado que pelo menos duas vezes mais crianças foram vacinadas contra o sarampo em 2017, em comparação ao ano anterior. Esses números levantam questões sobre porque tantas pessoas adoeceram apesar do programa de vacinação contra o sarampo. A Ucrânia é um dos 25 países com bio-laboratórios do Pentágono em seu território. O Afeganistão (de onde se origina o vírus mortal B3 (Cabul)) também tem bio-laboratório do Pentágono em seu território.
51 crianças hospitalizadas após envenenamento em massa em escola ucraniana (publicado 10/05/2018)
As autoridades ucranianas estão investigando um surto de doença que enviou 51 alunos e dois professores para o hospital de Cherkasy. A causa do envenenamento ainda é desconhecida, mas conforme o comunicado, os adoecidos apresentavam sintomas como vômitos, tontura e dor de cabeça. Quinze crianças com idades entre 7 e 15 anos perderam a consciência. Onze crianças estão atualmente em terapia intensiva. Outros afetados estão internados em condições satisfatórias.
Este não é o primeiro caso na Ucrânia. Nos últimos anos, vários casos relacionados a envenenamentos, incluindo por toxina botulínica, e outras doenças incuráveis foram relatados em todo o país. O número de casos aumentou drasticamente desde o início do programa de pesquisa biológica do Pentágono no país, que faz fronteira com o principal rival dos EUA – a Rússia.
Documentos expõem experimentos biológicos dos EUA em soldados aliados na Ucrânia e na Geórgia (publicado em 24/01/22)
Enquanto os EUA planejam aumentar sua presença militar na Europa Oriental para “proteger seus aliados contra a Rússia”, documentos internos mostram o que significa a “proteção” americana em termos práticos. O Pentágono realizou experimentos biológicos com um resultado potencialmente letal em 4.400 soldados na Ucrânia e 1.000 soldados na Geórgia. De acordo com documentos vazados, todas as mortes de voluntários devem ser relatadas dentro de 24 h (na Ucrânia) e 48h (na Geórgia).
Ambos os países são considerados os parceiros mais leais dos EUA na região, com vários programas do Pentágono sendo implementados em seu território. Um deles é o programa de engajamento biológico da Agência de Redução de Ameaças de Defesa (DTRA), de US$ 2,5 bilhões, que inclui pesquisas sobre agentes biológicos, vírus mortais e bactérias resistentes a antibióticos sendo estudadas na população local.
As amostras serão testadas para anticorpos contra quatorze patógenos: Bacillus anthracis, Brucella, CCHF virus, Coxiella burnetiid, Francisella tularensis, Hantavirus, Rickettsia species, TBE virus, Bartonella species, Borrelia species, Ehlrichia species, Leptospira species, Salmonella typhi, WNV.
Documentos obtidos do registro de contratos federais dos EUA mostram que o USAMRU-G está expandindo suas atividades para outros aliados dos EUA na região e está “estabelecendo capacidades expedicionárias” na Geórgia, Ucrânia, Bulgária, Romênia, Polônia, Letônia e quaisquer locais futuros. O próximo projeto da USAMRU-G envolvendo testes biológicos em soldados deve começar em março deste ano no Hospital Militar Búlgaro em Sofia.
De acordo com a descrição do projeto, serão coletadas amostras de sangue de 4.400 soldados saudáveis em Lviv, Kharkov, Odessa e Kiev (cidades ucranianas) 4.000 dessas amostras serão testadas para anticorpos contra hantavírus, e 400 delas – para a presença de anticorpos contra o vírus da febre hemorrágica da Crimeia-Congo (CCHF). Os resultados dos exames de sangue não serão fornecidos aos participantes do estudo.
Não há informações sobre quais outros procedimentos serão realizados, exceto em “incidentes graves, incluindo óbitos, devem ser relatados em 24 horas. Todas as mortes de sujeitos do estudo que são suspeitas ou conhecidas por estarem relacionadas aos procedimentos de pesquisa devem ser levadas ao conhecimento dos comitês de bioética nos EUA e na Ucrânia.”
Jornalista búlgara confronta funcionário dos EUA sobre laboratórios biológicos secretos (publicado em 29/04/18)
Escrito por Filip Vuković, Balkan Post
Dilyana Gaytandzhieva é expulsa de uma conferência sobre armas biológicas no Parlamento Europeu, em Bruxelas, após confrontar o secretário assistente dos EUA, Robert Kadlec. [vídeo]. Esta não é a primeira vez que a jornalista expõe os programas militares secretos dos EUA. No verão passado, ela publicou um relatório bombástico, onde descobriu uma companhia aérea estatal do Azerbaijão transportando regularmente toneladas de armas baratas da Bulgária e do Leste Europeu para a Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Turquia, sob cobertura diplomática como parte do programa secreto da CIA.
Por fim:
Aos leitores da Agência VeritXpress que queiram apoiar ou tornarem-se voluntários com o trabalho da jornalista Dilyana Gaytandzhieva, estes são os links deixados por ela. Página para Doações; torne-se Voluntário, para segui-la no Telegram, “Arms Watch Telegram”; link: https://t.me/armswatch.